Bastidores da F1: Red Bull teve GP para esquecer dentro e fora das pistas
Era 2015. A Mercedes dominava. Lewis Hamilton e Nico Rosberg estiveram juntos no pódio em todas as etapas anteriores a não ser o GP da Hungria e da Itália, quando Rosberg teve uma quebra de motor. Até que chegaram no GP de Singapura, se classificaram na terceira fila, Hamilton também teve problema de motor e Rosberg ficou fora do pódio.
Oito anos depois, foi a Red Bull que teve um apagão. Max Verstappen foi o quinto colocado na corrida vencida de forma brilhante por Carlos Sainz. E Sergio Perez foi o oitavo. Como explicar que os dois ou três décimos de vantagem vistos nas etapas anteriores simplesmente desapareceram?
"Nós tivemos um tipo de problema no primeiro treino de sexta e outro tipo de problema no segundo treino", admitiu o chefe de engenharia da Red Bull, Paul Monaghan. "Parecia que estávamos progredindo durante o terceiro treino livre, mas exageramos na classificação. As diferenças estão muito pequenas e não demos aos nossos pilotos uma plataforma boa o suficiente. Se pudéssemos fazer tudo de novo, faríamos as coisas diferentes. Mas vários times diriam isso."
Esse "exagero" da classificação citado por Monaghan foi a decisão de deixar o carro mais baixo. A evolução do terceiro treino livre, quando eles colocaram o assoalho sem as modificações que trouxeram para Singapura, fez com que eles acreditassem que seria possível andar mais perto da configuração que é a melhor para o carro da Red Bull. Mas eles descobriram que não era o melhor para a pista.
Dan Fallows, da Aston Martin, explicou à coluna que a pista de Singapura tem algumas características próprias que podem pegar algum time desprevenido, o que explica casos como o da Mercedes de 2015 e o da Red Bull agora. É uma combinação entre as curvas de raio curto com as zebras e os diferentes tipos de asfalto. Tudo faz com que o carro tenha que ser levantado um pouco mais do que o normal, e isso pode afetar cada máquina de uma maneira.
Ainda mais neste ano, em que parte do traçado foi reasfaltado.
A característica da pista mudou ligeiramente e as previsões do simulador da Red Bull estavam erradas. Hoje em dia, o carro chega com 95% do acerto feito no mundo virtual, e os times chegam nos treinos livres, comprovam os dados do simulador e fazem apenas o acerto fino.
Mas o acerto que veio da fábrica gerou dificuldades para a Red Bull, algo semelhante ao que aconteceu no GP de São Paulo de 2022, a última prova que o time tinha perdido.
Mas qual é o problema em si? Sergio Perez explicou que eles simplesmente não podiam usar as mesmas linhas que a Ferrari e a Mercedes estavam usando. Ou seja, não podia atacar as zebras como eles. Isso vem da altura do carro. A Red Bull ficou desequilibrada quando estava mais alta, com os pilotos relatando saídas principalmente de traseira, e ficou baixa demais na classificação para que os pilotos atacassem as zebras.
Novidade nas regras afetou o rendimento da Red Bull?
Ou seja, nada aponta uma relação entre a diretiva técnica que entrou em vigor em Singapura e a queda da Red Bull. Com retas curtas, não é uma pista em que se veria a vantagem de ter flexão nas asas, e o time inclusive nega que tenha feito qualquer mudança para se adequar. Não coincidentemente, Verstappen respondeu com um sorriso e "veremos em Suzuka" quando perguntado se o esclarecimento das regras de asas e assoalho tinha afetado seu time.
De fato, se alguém perdeu com a diretiva técnica, o palco da próxima etapa, no Japão, será o melhor para que isso seja notado.
O próprio Verstappen também terá tempo para se recuperar. Ele estava bastante desgastado depois do GP de Singapura, o mais duro fisicamente da temporada, precisou ingerir bebidas doces logo que saiu do carro, e foi o último piloto a sair da zona de pesagem da FIA e ir para a zona de entrevistas.
Fora das pistas, a Red Bull também teve um fim de semana conturbado, com Christian Horner sendo questionado do porquê do silêncio da equipe após as declarações do consultor Helmut Marko sobre o mexicano Sergio Perez não ser tão focado como Verstappen e Vettel por ser "sul-americano".
Marko recebeu uma advertência da FIA, mas não oficialmente. Quer dizer, a FIA não emitiu nenhum comunicado oficial a respeito. A Red Bull soltou, Perez disse que está tudo bem, e Marko seguiu seu dia a dia normal no circuito em Singapura. Ele se diz cada vez mais jovem, apesar dos 80 anos, e quer continuar na função de uma espécie de gerente da operação da Red Bull na F1.
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OLHAR APURADO
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Quero receberA única "vitória" da Red Bull foi evitar uma punição para Verstappen após a classificação. Ele foi investigado por três infrações, duas bastante claras. E só levou duas reprimendas. Várias equipes estavam irritadas com o resultado dos julgamentos, e cobravam os comissários que circulavam pelo paddock.
Não é de hoje que existe a cobrança por consistência na aplicação de penas, mas isso é difícil quando os comissários são diferentes a cada etapa, e não têm tanto conhecimento das regras quanto os membros das equipes que vão defender os pilotos. E quando Guenther Steiner foi cobrar publicamente em junho por comissários profissionais, como os árbitros de outros esportes, foi chamado a se explicar pela FIA.
Aston Martin garante presença de Lance Stroll no Japão
O GP de Singapura não teve a presença de Lance Stroll, que se acidentou na classificação. A decisão foi tomada no domingo de manhã, depois que o canadense acordou "como se tivesse feito um treino muito forte na academia", como explicou o chefe Mike Krack.
A pancada do canadense foi forte. Segundo a FIA, o impacto foi de 55G. O número que circula na Aston é maior, 80G. De qualquer maneira, o pescoço do piloto fez movimentos bastante bruscos por conta do ângulo da batida. Stroll, que estava muito irritado no sábado à noite, reconheceu que estava forçando bastante para tentar passar para o Q2, depois de ter sido parado pela pesagem da FIA e ter ido parar no meio do trânsito de outros carros.
A equipe garante que Stroll correrá no GP do Japão. O diretor de performance, Tom McCullough, disse que a chance do canadense perder a etapa é zero. O reserva que está escalado para a etapa do Japão é Stoffel Vandoorne. O brasileiro Felipe Drugovich também é reserva da equipe, reveza com o belga, e estará de volta no Qatar.
Mas a batida pode render problemas para a Aston Martin, que já teve de refazer a asa dianteira meses atrás a pedido da FIA por problemas na maneira como ela reagiu a um impacto anterior. Mais uma vez, a asa parece se descolar do carro, então é bem provável que outro projeto seja pedido pela entidade para garantir a segurança dos pilotos.
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