Como uma derrota tornou Verstappen imbatível na conquista do tricampeonato
É fácil a gente esquecer que este ano de 2023 não começou tão dominante assim para o Max Verstappen. A história das primeiras corridas do ano tinha sido semelhante ao que aconteceu em 2022. Quando Verstappen sofria pra fazer a frente da sua Red Bull funcionar do jeito que ele gostaria, seu companheiro Sergio Perez conseguia equilibrar o jogo. E isso acontecia com mais frequência nas pistas de rua. Mas foi justamente uma derrota no circuito urbano de Baku que quebrou essa máxima. E fez com que o holandês de 26 anos conseguisse a sequência de vitórias mais longa da história da F1, fundamental para a conquista do tricampeonato com seis corridas para o final do campeonato, a começar pela corrida desde domingo, no Qatar.
Isso porque Verstappen selou a conquista do tricampeonato já neste sábado, mesmo sem vencer a sprint no Qatar. Largando com os pneus médios, piores no início da prova mas superiores no final, o holandês teve uma corrida diferente da maior parte de sua temporada. Caiu para quinto, mas foi superando os rivais que tinham apostado no pneu macio para chegar em segundo, atrás de Oscar Piastri, da McLaren.
Mas como uma derrota lá em abril pode mudar o destino de um campeonato? O GP do Azerbaijão, em Baku, foi a quarta corrida do campeonato e marcou a segunda vitória de Perez. Mais do que isso. Na primeira sprint do ano, Verstappen foi dominado. Ficou atrás nas duas classificações e nas duas corridas. Mas saiu de sua Red Bull tranquilo, dizendo que tinha sido uma corrida positiva.
Certamente, não é do feitio de Verstappen se satisfazer com um final de semana como aquele. E, aos poucos, fomos descobrindo o porquê. Ele nunca explicou exatamente o que encontrou, mas certamente foi algo que permitia que ele pudesse exprimir mais do comportamento que mais gosta em um carro.
"Aprendemos muito com a corrida de Baku, como fazer coisas diferentes com o carro, como configurá-lo. Claro que não venci aquela corrida, mas fiquei experimentando várias ferramentas no carro e até por isso meu ritmo foi inconsistente. Mas, em determinado momento, entrei em um bom ritmo com o que encontrei. E pensei 'isso é interessante para as próximas corridas'. Basicamente, implementei isso, e me ajudou em todas as pistas."
Mas o que Verstappen teria encontrado que funciona tão bem para ele e tão mal para Perez, que não venceu nenhuma prova desde então? Seu ex-companheiro, Alex Albon, disse recentemente que ninguém conseguiria pilotar o carro do jeito que Verstappen pilota. Ele aponta a dianteira de uma vez, controlando o movimento da traseira. De certa forma, um estilo parecido ao de Michael Schumacher.
Já Perez não se importa se o carro sair um pouco de frente, já que ele prefere entrar na curva mais lentamente. Então, se o carro patinar um pouco, tudo bem. Isso não poderia ser mais diferente do estilo de Verstappen. Essas saídas de frente, que ocorrem quando o piloto aponta o carro para curva, mas ele escorrega na outra direção, são o ponto fraco da Red Bull, principalmente quando eles não conseguem colocar o pneu na temperatura ideal. Verstappen encontrou uma maneira de driblar isso. E elevou o nível do carro da Red Bull.
Isso ajuda a explicar por que o abismo entre Verstappen e Perez ficou tão grande. O holandês acabou com a única vantagem que Perez tinha. Isso foi minando sua confiança e contribuindo para classificações muito ruins, que renderam posições no grid muito abaixo do que a Red Bull podia fazer, e corridas marcadas pela frustração, como no último final de semana no Japão.
Do outro lado da garagem, Verstappen ganhou confiança extra no carro, que é bem melhor aos domingos do que aos sábados, justamente por conta daquela deficiência em colocar temperatura nos pneus dianteiros, que aparece mais em uma volta lançada. Mesmo assim, ele fez tirou algumas poles da cartola e, mesmo quando não o fez, usou a vantagem da Red Bull em ritmo de corrida para ir colecionando vitórias.
Com seis corridas para o final da temporada, não é de se imaginar que ele vá parar por aqui. Não é do seu feitio. O recorde de maior número de vitórias seguidas por batido, agora são dez, e mais recordes virão.
É bom para a F1 ter alguém tão à frente? Não é, ainda mais dois anos depois que desfrutamos de uma das temporadas mais competitivas da história em 2021. Mas trata-se de uma categoria que premia excelência, marcada por dinastias - só nesse século, essa caminha para ser a terceira, depois dos casamentos de Ferrari e Schumacher, Mercedes e Lewis Hamilton.
Essas dinastias foram fruto de anos de trabalho de um mesmo grupo de pessoas dentro de uma equipe, a ponto de homem e máquina falarem o mesmo idioma. Foi isso o que aconteceu com Max Verstappen e a Red Bull em Baku.
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