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Ataques de fúria, seca de resultados: o que está acontecendo com Stroll?

O campeonato até não começou tão mal para Lance Stroll. Alguns sextos lugares, um quarto, sempre atrás do companheiro Fernando Alonso, mas ainda conseguindo colocar a Aston Martin no top 10 com certa frequência. Até que o rendimento do carro piorou, os outros cresceram, e a diferença em relação ao espanhol se tornou um abismo. E a frustração passou a ficar clara na sua pilotagem e fora do carro também.

Diante das câmeras, a gota d'água aconteceu na classificação do GP do Qatar. Eliminado na primeira fase pela quarta vez seguida, ele arremessou o volante e, quando seu treinador Henry Howe indicou que ele deveria ir para a pesagem obrigatória da FIA, foi empurrado primeiro de leve no meio da garagem, e depois de forma mais incisiva. O canadense se desculpou.

Mas isso foi o que as câmeras captaram. Stroll já tinha tido outro acesso de raiva após o acidente que acabou tirando-o do GP de Singapura, também na classificação. No domingo, não apareceu na pista para agradecer aos mecânicos por terem trabalhado na madrugada para montar um carro que sequer foi usado.

A primeira questão é de onde vem tamanha diferença para Alonso, maior do que no começo da temporada. O carro da Aston Martin não tem mais o mesmo equilíbrio do início do ano, o que provavelmente está ligado às mudanças que a FIA pediu em sua asa dianteira.

O carro era muito forte em curvas de baixa velocidade, mas gerava muita resistência ao ar nas retas. Com o desenvolvimento, essa questão do arrasto não foi resolvida totalmente, e o carro começou a piorar nas curvas de baixa, e se tornou instável nos outros tipos de curva.

Então, primeiro o carro se tornou mais lento em relação aos rivais, o que fica claro pelos resultados de Alonso. O espanhol conquistou seis pódios nas oito primeiras provas, e apenas um nas nove seguintes.

E também se tornou mais difícil de ser pilotado, mais instável nas curvas. E daí o aumento da diferença entre os pilotos. E da frustração de Stroll, o que, por sua vez, também não o ajuda a reencontrar o caminho com o carro.

É por essa frustração evidente na sua pilotagem que não dá para ler muito na sua apatia nas entrevistas, que leva muitos a questionar se o piloto, que tem suas qualidades, mas que está na F1 muito em função do dinheiro do pai, que comprou não só uma equipe, como também uma montadora, quer continuar.

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Na verdade, essa apatia sempre esteve com ele, desde a época da Williams. Ele até anda muito devagar no paddock, bem diferente dos outros pilotos, como se não tivesse vontade de estar ali.

E, ao mesmo tempo, dentro da equipe, ele é participativo nas reuniões, demonstra interesse, continua descrevendo bem o comportamento do carro, querendo contribuir para melhorar. E não é incomum ter os acessos de raiva que, desta vez, foram flagrados na TV.

Sobre os tais acessos de raiva, de empurrar funcionários, é uma pena que o chefe Mike Krack passe a mão na cabeça do piloto e coloque na conta do "esportista de cabeça quente quando algo dá errado". Embora isso seja reflexo da situação da equipe comandada pelo pai do piloto. Sobre a má fase, pessoas de dentro da Aston Martin garantem que ele só precisa que a temporada termine logo. A má notícia nesse caso é que vem aí uma rodada tripla, com os GPs dos EUA, Cidade do México e São Paulo em finais de semana seguidos. É o pior cenário para quem não vem em boa fase.

Mas o mais curioso do caso Stroll é que é como se fossem duas pessoas diferentes. Alguém que não quer mais estar na F1 não se arriscaria como ele fez ao continuar no GP do Qatar mesmo sentindo que iria desmaiar a qualquer momento. Ainda mais para sair da corrida sem um ponto sequer.

É o mesmo tipo de garra que ele demonstrou ao voltar tão rápido após lesionar os pulsos no começo do ano. Quase não parece ser a mesma pessoa que aparenta tanta apatia quando não está no carro. É um caso complexo esse Lance Stroll.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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