Silêncio parece ser estratégia da F1 (e Ferrari) para lidar com caso Massa
Felipe Massa vem enfrentando uma arma incômoda na sua tentativa de cancelar o resultado do GP de Singapura de 2008 e, com isso, ter algum tipo de compensação, financeira e esportiva, por ter perdido o campeonato daquele ano: o silêncio. Em entrevista ao UOL, o piloto criticou diretamente a postura da Ferrari, sua equipe na época, que ainda não se pronunciou sobre o caso.
E a equipe não está sozinha. O prazo que os advogados de Massa deram para uma resposta da Federação Internacional de Automobilismo e da própria F1 (por meio da Liberty Media, detentora atual dos comerciais da categoria), que já tinha sido estendido, passou há mais de um mês. E, pelas declarações recentes do piloto, tudo segue na mesma. Esse procedimento é anterior ao início de uma ação na Justiça comum.
Massa conseguiu o apoio do ex-chefe da Ferrari
Massa vem tentando angariar apoio, usando seus contatos e explicando exatamente por que só resolveu buscar a revisão do GP de Singapura 15 anos depois. Em suma, o regulamento da FIA diz que o resultado de um campeonato não pode ser alterado após 31 de dezembro do ano em que foi disputado.
No entanto, foram divulgadas entrevistas nos últimos meses dando conta de que pelo menos três dos dirigentes mais importantes da F1, Bernie Ecclestone, Max Mosley e Charlie Whiting, sabiam que o resultado do GP de Singapura tinha sido armado antes dessa data.
Pelo menos Whiting e Mosley teriam ficado sabendo da armação no início de novembro, tendo sido alertados por Nelson Piquet. Seu filho, Nelsinho Piquet, é personagem central nessa história por ter batido de propósito para ajudar o companheiro Fernando Alonso, que venceu a prova.
Recentemente, Massa conseguiu que o ex-chefe ferrarista e ex-presidente da FIA, Jean Todt, o apoiasse publicamente. "Descobrir que a federação sabia a verdade antes da famosa data de 31 de dezembro poderia mudar as coisas", disse ele, que assumiu o controle da entidade depois que o caso tinha sido julgado, ao L’Equipe. "Infelizmente, Charlie (Whiting) e Max (Mosley) faleceram. Em retrospecto, nós deveríamos ter pedido para a corrida ser cancelada. Esse fato completamente novo, se for verdadeiro e verificável, é que o regulador que oficializava o campeonato sabia."
Massa e Todt são muito próximos, então o apoio não chega a surpreender. Mas as declarações tocam em um ponto importante nesse caso: uma coisa é eles terem ficado sabendo. Outra é conseguir verificar e provar isso na Justiça, lembrando que dois personagens centrais faleceram. E o terceiro, Bernie Ecclestone, hoje com 93 anos, ora diz que sabia, ora recua.
E o silêncio da Ferrari, como interpretar?
Essa dificuldade de verificar se houve realmente negligência dos dirigentes no momento significa que embarcar no caso de Massa é ir contra a própria F1. E não é disso que a Ferrari precisa em um momento de negociação do contrato que rege basicamente tudo na categoria.
Trata-se do chamado Pacto da Concórdia, renovado de tempos em tempos. O atual vai até o final de 2025, então as negociações já estão em curso. É nesse contrato que fica definido, por exemplo, quanto cada equipe recebe da receita total da F1. E a Ferrari senta nessa mesa de negociação com menos força política do que já teve, sem vencer um campeonato, justamente, desde o título de construtores de 2008.
Por ser a única equipe que esteve em todos os campeonatos da F1, desde 1950, a Ferrari tem regalias, e não faz sentido correr risco de perdê-las.
E não é algo que se fala abertamente, mas de certa forma mexer nessa ferida de Singapura também expõe um erro crasso da equipe no pit stop de Massa. O piloto foi liberado com a mangueira de reabastecimento ainda acoplada ao carro, e isso foi fundamental para ele ter feito menos pontos que o rival Lewis Hamilton naquele dia. Na verdade, Massa tinha feito a pole com sobras e liderava a prova, com Hamilton logo atrás. Os dois pararam juntos durante o Safety Car causado pela batida de Piquet. Massa saiu bem atrás por conta do ocorrido no pitstop.
Massa não está errado ao deixar tudo isso para trás e focar no fato novo de que é possível que os dirigentes soubessem que a batida tinha sido de propósito. Mas, pelo silêncio vindo de todos os lados, vai ter de tomar uma decisão difícil de realmente processar a F1 e a FIA na Justiça comum com ou sem o apoio da comunidade da categoria.
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