Investigado, chefe da Red Bull vira estrela de lançamento e busca se manter
"Como foi seu inverno?", pergunto a Christian Horner e recebo um olhar mais tenso do assessor de imprensa da Red Bull e vejo o chefe da Red Bull parar por dois uns dois segundos e escapar com um "atarefado". A apresentação era do RB20, carro da equipe na temporada 2024 da F1. Mas todas as atenções estavam em cima dele.
Até porque o evento de lançamento era, também, uma celebração do que será a 20ª temporada da Red Bull na Fórmula 1. Todas elas com Horner no comando. E deixar de vê-lo balançando os pés no pitwall da equipe neste ano, algo que parecia quase certo quando a história sobre a investigação interna da empresa Red Bull sobre sua postura com uma funcionária foi divulgada, coisa de 10 dias atrás, hoje parece menos provável.
"Eu nego totalmente as alegações. Para mim, tudo segue normalmente. Estou confiante nisso. Caso contrário, não estaria aqui."
Primeiramente, nem se sabe exatamente quais são as alegações. No evento desta quinta-feira, em Milton Keynes, na fábrica da Red Bull, havia alguns assuntos que Horner se negou a comentar. A natureza das denúncias, o suposto pedido inclusive da própria F1, representada por seu CEO, Stefano Domenicali, para que ele se afastasse.
Da boca de Horner, ouvimos com todas as palavras que "o apoio dos acionistas tem sido enorme", embora não saibamos se ele se refere ao lado tailandês da Red Bull, com quem tem mais trânsito, ou com o austríaco.
Até porque são várias as fontes, há meses, que falam em uma equipe dividida. De um lado, Helmut Marko, visto como uma liderança importante pelo lado austríaco da Red Bull e apoiado por Max Verstappen. De outro, Horner, que teria colocado lenha na fogueira ao buscar apoio dos tailandeses a fim de evitar a renovação do contrato do consultor.
Ele não conseguiu, e agora ainda tem de se defender dessas alegações. Uma coisa estaria ligada à outra? É leviano dizer isso, mas a maneira como a notícia da investigação de Horner foi divulgada, por meios ligados aos Verstappen, deixou claro que Horner pode até ter o apoio que diz estar recebendo, mas não é de todos os lados da equipe.
A impressão é de que Horner tem a equipe de corrida em si do seu lado, e o evento de lançamento, que acabou sendo, em parte, uma celebração à própria trajetória de Horner como chefe do time de 2005 para cá, foi um palco perfeito para uma demonstração de força.
Até porque Marko estava por lá, sem posar para fotos do lado do carro, nos bastidores. E sem dar entrevistas, pelo menos pelos caminhos oficiais. A justificativa? É um evento da equipe de corrida.
Na verdade, ouvi que o próprio Marko já não acredita tanto quanto há uma semana que Horner esteja de saída. Quanto mais tempo ele conseguir se manter depois do choque inicial gerado pelas investigações, melhor para ele.
Parece até que estamos falando de uma equipe em crise, que não ganha há tempos. A Red Bull acaba de vir de uma das temporadas mais longas da história da F1 com apenas uma derrota. E está desenvolvendo um projeto bastante ousado de construir seu próprio motor, que estará na pista em 2026. Não é à toa que Horner não queira desistir facilmente.
"Estou totalmente comprometido com essa equipe. Eu construí essa equipe", disse Horner. "Meu comprometimento sempre foi todo com essa equipe, nos dias bons e nos dias ruins. É algo muito pessoal para mim porque investi muito nele. Tenho apoio de toda a equipe, dos pilotos, dos parceiros. Todos têm sido incríveis."
O quadro oficial que foi pintado hoje é realmente de muito apoio. Um lançamento focado em falar da história da Red Bull sem Christian Horner, convenhamos, perderia muito seu sentido. Mas não deixa de ser fascinante que uma equipe que vem dominando de maneira tão marcante a F1 tenha que ficar dando essas demonstrações publicamente quando os ruídos que vêm lá de dentro são muito altos para se ignorar.
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