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Teimosia de Wilson Fittipaldi deu outra dimensão a automobilismo brasileiro

O corpo já não tinha a mesma mobilidade, a maneira de se comunicar com as pessoas ao seu redor mudou também, mas o brilho nos olhos de Wilsinho Fittipaldi encontrando velhos conhecidos no paddock de Interlagos durante o GP de São Paulo em novembro era o testemunho da ainda enorme paixão de um pioneiro do esporte no Brasil, que nos deixou hoje (23), aos 80 anos.

A história da família Fittipaldi se confunde com a do automobilismo no Brasil. Tanto, que Emerson Fittipaldi, irmão de Wilsinho, costuma resumir a presença do país na Fórmula 1 nos anos 1970 ao que chama de "três mosqueteiros": os dois irmãos e José Carlos Pace.

Mas a história de Wilsinho é única. Se formos acreditar no 'diagnóstico' do pai, o Barão Wilson Fittipaldi, uma lenda do rádio brasileiro e grande responsável pela paixão dos filhos pelo automobilismo, faltou paciência para Wilsinho ter tanto sucesso quanto o irmão como piloto na Fórmula 1. E isso o levou a uma trajetória que dificilmente será emulada.

Emerson caiu nas graças de Colin Chapman, da famosa Lotus, que colecionou títulos nos anos 60 e 70, e logo de cara já teve um carro bastante competitivo para lutar por vitórias e títulos.

Wilsinho ficou à margem, lutando sempre por patrocínio. Foram duas temporadas na Brabham até que ele resolveu solucionar a questão de uma maneira que poucos pilotos até hoje o fizeram: tendo uma equipe própria.

Essa já seria uma história impressionante se Wilsinho viesse de um grande centro do automobilismo como a Inglaterra ou a Itália. Mas ele era brasileiro, e passaria por dificuldades inimagináveis para os europeus, como convencer o governo a liberar os pneus de competição na alfândega.

Emerson Fittipaldi apresenta o carro da Copersucar para Ernesto Geisel, em 1974, no Salão Negro do Congresso Nacional
Emerson Fittipaldi apresenta o carro da Copersucar para Ernesto Geisel, em 1974, no Salão Negro do Congresso Nacional Imagem: Divulgação/Dana

Nada disso parou Wilsinho, que não só colocou a Copersucar no grid em 1975, como convenceu o irmão Emerson a correr para o time no ano seguinte. Emerson tinha sido vice-campeão no ano anterior, já tinha dois títulos, era uma estrela.

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Ele chegou a fazer pódios, mas os desafios provaram ser maiores do que o enorme empreendedorismo de Wilsinho, e a equipe dos Fittipaldi fechou em 1982 com um rombo milionário. Mas deixou seu legado na Fórmula 1, tendo atraído nomes como Peter Warr e Harvey Postlethwaite, e tendo sido a primeira 'casa' de Adrian Newey, o projetista de maior sucesso da história e que está por trás dos carros da Red Bull hoje, na categoria.

Foi um carro de Wilsinho que virou tendência na F1 ao ter carenagem em cima do motor, algo que amplamente usado até hoje.

Foi na equipe de Wilsinho que o engenheiro brasileiro Ricardo Divila, entre outros, pôde mostrar serviço. Ricardo se mudaria para a Europa e trabalharia com outras equipes tradicionais da F1, provando que havia profissionais criativos e qualificados também em um país de pouca tradição no esporte. E essa é uma dimensão importante do projeto da Fittipaldi Automotive, que ajudou a solidificar a cultura de automobilismo no Brasil.

Costuma-se lembrar dos títulos dos pilotos brasileiros na F1 na hora de explicar por que, ainda hoje, mais de 30 anos depois do último deles, tanta gente ainda consome informações sobre a categoria. Mas não é exagero dizer que muito do que o automobilismo brasileiro se tornou a partir dos anos 1980 tem a ver com a tal teimosia do "Tigrão", apelido certeiro que Wilsinho ganhou pela audácia que demonstrava ainda nos tempos de kart.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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