A Red Bull está voando com a ideia que a Mercedes jogou fora após 18 meses?
Chalres Leclerc, da Ferrari, foi o mais rápido nos testes de pré-temporada da F1, mas Max Verstappen é novamente apontado como o grande favorito para o campeonato que começa no próximo sábado. Mas a rota que a Red Bull escolheu para defender os títulos de pilotos e construtores não foi das mais comuns.
Não é sempre que o time que está dominando a Fórmula 1 decide fazer mudanças importantes no seu carro em tempos de regulamento estável. Mas foi o que a Red Bull fez neste ano e, a julgar pelo desempenho do carro nos testes de pré-temporada, eles não parecem ter dado um passo atrás. Pelo contrário.
As mudanças que mais chamam a atenção estão em uma região que deu o que falar nos últimos anos, mas em outra equipe, a Mercedes. Quando o carro foi lançado, as imagens divulgadas não eram claras, e nem vendo o carro ao vivo, pelo ângulo e luzes usadas, dava para entender muito bem o que o projetista Adrian Newey tinha 'aprontado'.
Estava claro que uma área chamada sidepod, a lateral do carro, tinha mudado e parecia menor. Teria Newey copiado o 'zeropod', ou seja, as laterais bem enxutas que a Mercedes tentou fazer funcionar por quase 18 meses, sem sucesso?
Primeiro, vale a explicação do que aconteceu em 2022 e 2023 com os carros de Lewis Hamilton e George Russell.
Com o 'zeropod', a Mercedes sofreu para gerar carga aerodinâmica na parte anterior do assoalho e o carro começava a pular em determinadas velocidades. Para evitar isso, era necessário andar com o carro mais alto do que o ideal, e isso fazia com que ele gerasse menos pressão aerodinâmica.
Com isso, o carro fica menos estável e mais lento nas curvas, além de acabar gerando também mais arrasto, mais resistência ao ar, por estar mais alto. E isso é ruim para a velocidade de reta.
Enfim, era um carro lento, a não ser que os engenheiros encontrassem uma maneira de evitar essa perda de pressão aerodinâmica na parte da frente do assoalho e também fizessem o carro parar de pular. Eles acreditaram que isso seria possível com a segunda versão do 'zeropod', não estavam corretos, e desistiram do projeto já na sexta etapa.
A Red Bull se inspirou na Mercedes, mas não tem um 'zeropod'
Quando o carro surgiu nos testes no Bahrein, ficou um pouco mais claro o que Newey está fazendo. A Red Bull já tinha uma entrada de ar bem estreita na região e ela continua lá, no formato que foi apelidado de 'caixa de correio'. Essa 'caixa' é colocada o mais alto possível, mas agora a parte de cima dessa entrada de ar é mais longa que a de baixo, invertendo o que era usado ano passado (e que muitas equipes copiaram).
Isso canaliza o ar para baixo, onde agora existe uma enorme área na parte da frente dos sidepods. Esse ar passa pelo "canal" que o carro tem entre a lateral e o assoalho e vai alimentar a parte traseira.
Isso é algo semelhante ao que o carro do ano passado fazia, mas o novo arranjo aumenta esse espaço entre o topo do sidepod e o tal "canal", então isso também aumenta o fluxo de ar.
Todo esse conjunto é muito diferente do que a Mercedes tentou fazer. O 'zeropod' não tinha, por exemplo, esse canal. E não tinha, também, essa 'caixa de correio' horizontal.
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Quero receberMas chama a atenção o fato de que essa 'caixa de correio' não é a única fonte de refrigeração do carro.
Newey colocou uma segunda abertura vertical, rente ao monocoque. Com isso, os radiadores agora são posicionados em V e isso dá certa liberdade para a equipe trabalhar nessa área do ponto de vista aerodinâmico.
Além disso, o carro ganhou outra abertura, na parte de sustentação do halo, com um canal em forma de ganhão que domina o visual da parte de cima do carro, indo até a traseira. Isso, sim, se assemelha à Mercedes (de 2023, já que isso foi alterado neste ano).
Por que isso chama a atenção? Porque é possível que este arranjo dê opções para a Red Bull mudar a 'cara' do seu sidepod dependendo da temperatura ambiente. Mas, de qualquer maneira, é um conceito diferente do 'zeropod'.
É normal que Newey esteja de olho no que os rivais estão fazendo. Ele sempre percorre o grid quando eles estão alinhados aguardando a largada, com seu caderninho de anotações na mão, observando até os carros das equipe do fundo do pelotão.
Enquanto vários carros do grid têm inúmeros elementos do RB19, que venceu 21 das 22 corridas do ano passado, o RB20 tem elementos da Mercedes, da Ferrari também, já pegou inspirações até na Williams antes disso. Uma ideia isolada não faz o carro se tornar super rápido ou super lento de uma hora para a outra, mas você pode tentar entender o que um rival pretende com determinado desenho e reproduzir essa ideia.
Se der certo, não é algo que pode ser totalmente copiado durante uma temporada. Houve muito trabalho para repensar todo o sistema de refrigeração, há questões de homologação de chassi (algo caro demais para se fazer durante o campeonato por conta do teto orçamentário que as equipes têm que respeitar).
Newey ignorou aquela máxima de que "em time que está vencendo, não se mexe" e pode ter acabado com a esperança que os rivais tinham de que um regulamento estável poderia ajudar a equilibrar as forças.
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