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Bortoleto vê interesse em valorizar jovem que pode substituir Hamilton

Antes mesmo de a temporada da Fórmula 2 começar, o nome de Andrea Kimi Antonelli estava na boca de todos não apenas colocando-o como o grande favorito para a conquista do título da principal categoria de acesso à F1, como também no topo da lista da Mercedes para possíveis substitutos de Lewis Hamilton na equipe em 2025. E olha que o italiano de 17 anos estava fazendo sua estreia na categoria e tinha pulado a Fórmula 3.

Era quase como se o campeonato nem precisasse ser disputado: Antonelli venceria pilotos que estão em sua segunda, terceira temporada na F2. Venceria também aqueles que estão subindo da F3, como o atual campeão da categoria, Gabriel Bortoleto. Mesmo que nada dessa expectativa venha dele mesmo, e sim do seu entorno, é claro que toda a atenção fez com que seus rivais na F2 começassem a questionar se apenas o talento de Antonelli era a resposta para tanta badalação.

"Ele pode ser um futuro piloto de Fórmula 1, mas a gente tá batalhando tanto quanto ele pra chegar lá", lembrou Bortoleto em entrevista à coluna. "E eu não tenho dúvida que ele é um ótimo piloto, tenho certeza de que ele vai ser um piloto de sucesso, mas ele foi apadrinhado por uma pessoa de muito poder na Fórmula 1, que muito provavelmente tem uma porcentagem da carreira dele e quer de todas as maneiras que ele vá para a Mercedes para ter uma parte do que ele ganhar."

Isso porque toda essa valorização vem da maneira como Antonelli colecionou títulos no kart e venceu quatro campeonatos em dois anos em carros de fórmula, e inegável. Mas é parte da história. Tais resultados fizeram com que ele chamasse a atenção de programas de jovens pilotos de equipes de F1, e assinasse com a Mercedes. Esse capítulo da história ajuda a explicar a aparente pressa em colocá-lo não apenas na F1, mas em um carro forte, como lembra Bortoleto.

Gabriel Bortoleto, piloto da F2, no Bahrein
Gabriel Bortoleto, piloto da F2, no Bahrein Imagem: X/@Formula2

"Eu não tenho um chefe de equipe de Fórmula 1 com percentagem na minha carreira. Eu tenho o Fernando Alonso, que na minha opinião é um dos melhores pilotos de todos os tempos, e eu estou muito feliz com isso. Mas cada um tem que chegar lá da sua maneira. Eu sempre coloquei na minha cabeça que, para chegar lá, eu tenho que ter um bom desempenho nas categorias de base. Ano passado eu ganhei, esse ano, se eu andar bem, eu espero ter uma oportunidade lá, mas isso tudo depende dos meus resultados. Prefiro chegar assim."

Mercedes não quer ver a história de Verstappen se repetir

Max Verstappen foi outro piloto que chamou a atenção de equipes de F1 ainda no kart, como Antonelli. As negociações mais avançadas foram com a Red Bull e com a Mercedes, que acabou não levando seu passe na época justamente porque não podia oferecer um caminho claro para o piloto chegar na F1. Na Red Bull, o consultor da Red Bull, Helmut Marko, pediu para o então chefe da Toro Rosso, Franz Tost, ver uma corrida de Verstappen logo em seu primeiro ano correndo em carros de fórmula. E Tost se convenceu de que ele poderia estrear por sua equipe aos 17 anos.

O chefe da Mercedes, Toto Wolff, que também atua empresariando pilotos, perdeu Verstappen, e não quer reviver essa história com Antonelli. Esse foi um dos motivos para a Mercedes oferecer a Lewis Hamilton um contrato mais curto do que ele gostaria. O plano era que o italiano fizesse a F2 neste ano, estreasse pela Williams em 2025 e subisse para a Mercedes no ano seguinte. Agora que Hamilton decidiu ir para a Ferrari ano que vem, que a Prema, equipe de Antonelli na F2, não começou o ano tão bem quanto se esperava, e que existe a possibilidade do próprio Verstappen estar disponível, o plano está sendo recalculado.

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E, na visão de Bortoleto, isso pode até ser bom para o jovem. "O pessoal falando já de contrato com a Mercedes… tem que ir passo a passo. Nem a Fórmula 3 ele fez, então é até difícil para o menino, eu acho. Muita pressão em cima dele, é um menino de 17 anos, eu acho que ele tem que viver um pouquinho. Quando você tem 17 anos e tem muita pressão assim, não é muito bom porque você acaba não aproveitando esses momentos por que está passando."

Após duas rodadas duplas disputadas na F2, que usa carros e motores iguais para todos os pilotos, Antonelli é o décimo colocado. Bortoleto é o oitavo. Nenhum dos dois teve o início de temporada que sonhava. A Prema do italiano não se adaptou bem ao palco da primeira etapa, no Bahrein, e o brasileiro não pontuou na Arábia Saudita, preso no meio do pelotão em um grupo em que todos podiam acionar a asa móvel na corrida curta e sofrendo uma quebra na principal.

Mas a expectativa é de que a Prema, sendo uma equipe com ótimos recursos, consiga dar a volta por cima. O atual líder é Zane Maloney, com Enzo Fittipaldi em segundo. Cada um venceu uma corrida principal disputada até aqui e faltam 12 etapas. Mesmo se a Prema virar o jogo, isso não significa que Antonelli terá vida fácil, até porque seu companheiro é Oliver Bearman, que acaba de substituir Carlos Sainz na Ferrari no GP da Arábia Saudita e chamar atenção com um ótimo desempenho.

É bom ressaltar que toda a badalação ao redor de Antonelli não vem dele, que inclusive está sendo blindado pela Mercedes e não tem dado entrevistas. No final das contas, são os resultados que têm de contar.

Tanto, que até o próprio Wolff fez um mea culpa. "Eu provavelmente sou culpado por falar muito do Kimi porque ele tem 17 anos, acabou de pular a F3. Ele precisa aprender, precisa de mais tempo, digamos, nas sombras para se desenvolver, entender o que é preciso. E também se ele estará na F1, e não sei se ano que vem ou se será conosco ou com outro time."

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