Torcida chinesa rouba a cena na volta da F1 ao país depois de cinco anos
Era só Zhou Guanyu aparecer no telão que a arquibancada lotada vinha abaixo. Os torcedores desfilavam com roupas de "fiscais de pitstop" de sua equipe, a Sauber, mostrando que não eram só torcedores ocasionais: sabem bem qual a maior dor de cabeça do chinês nas primeiras corridas da temporada. Aquela apatia de uma torcida que era formada em grande parte por convidados que tinham ganhado ingressos para ver a F1 do início da história da categoria na China definitivamente ficou para trás no 20º aniversário do GP no país, que retornou ao calendário depois de cinco anos.
O hiato se deu pela demora de a China se reabrir depois da pandemia e acabou sendo um teste interessante para entender o quanto a Fórmula 1 cresceu e mudou após a pandemia, algo observado por vários campeonatos esportivos, mas que na categoria se ampliou com a série da Netflix Dirigir para Viver, uma presença mais forte em mídias sociais, e uma temporada muito competitiva em 2021.
E, é claro, o efeito Zhou Guanyu, primeiro piloto chinês da história da F1, correndo na pista de Xangai também pela primeira vez na vida.
Ingressos acabaram em cinco minutos
Os ingressos se esgotaram em cinco minutos, e a organização já planeja aumentar o número de arquibancadas para o ano que vem. Inclusive, uma arquibancada está sendo construída na curva 2. Logo na China, onde eram esperadas 100 mil pessoas por dia nos primeiros anos da F1 por lá, mas onde arquibancadas viraram espaço de propaganda porque o interesse era baixo.
O público ainda não se compara com o de outros eventos mais famosos, mas foi atingida a lotação máxima de 60 mil pessoas por dia, e os ingressos estavam sendo vendidos no mercado de segunda mão por duas ou três vezes o preço original.
O evento também estava mais conectado com a cidade de Xangai - a pista fica, na verdade, no distrito de Jiading, a 40km do centro da metrópole. Havia ativações das equipes e de parceiras e anúncios em ônibus com destaque para Zhou, Lewis Hamilton e Max Verstappen. No passado, que estivesse andando pelas ruas da cidade, nem poderia imaginar que estava acontecendo uma corrida da F1 nas proximidades.
Mesmo em 2018 e 2019, depois que a F1 começou a focar mais nas mídias sociais sob o comando da Liberty Media, essa base de fãs já vinha crescendo bastante. E quem tinha a dúvida se o hiato de 5 anos tinha mudado isso, teve a resposta neste final de semana.
Zhou se emocionou com "filme passando na cabeça"
"Eu nunca tinha vivido algo parecido na minha vida", disse Zhou, que se emocionou quando parou seu carro no grid de largada após o final da prova e foi ovacionado pela torcida. "Passou um filme do que foram os últimos 20 anos até eu chegar aqui."
Zhou não era foi o único que recebeu um forte apoio da torcida. "Estou impressionado com a quantidade de bandeira de Mônaco que estou vendo nas arquibancadas. Acho que eu nunca vi nada igual na minha carreira", disse Charles Leclerc. "É uma das melhores corridas do ano graças à torcida. Eles são muito empolgados e apoiam todos os pilotos e todas as equipes", completou Fernando Alonso.
É realmente uma torcida que veste a camisa. Ou melhor, as camisas. Eles tinham faixas com o piloto estrangeiro favorito de um lado e Zhou do outro. Quando o chinês cumprimentava a torcida, ela era toda dele. Quando eram os demais, ela se dividia.
É bem verdade que, fora Zhou, há um piloto que tem mais torcedores que qualquer outro: grande parte da arquibancada principal estava tomada por bandeiras com o número 44 de Lewis Hamilton e torcedores carregando outro número, o oito, fazendo referência ao oitavo título do britânico, que muitos sentem ter sido roubado na decisão de Abu Dhabi em 2021. Toto Wolff se disse surpreso porque nunca tinha visto tanta gente esperando na frente do hotel da Mercedes na China. "Tinha umas 200 pessoas lá".
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Muitos chineses capricharam na produção, num estilo semelhante aos japoneses. E o tal colete de "inspetores de pitstop" da Sauber eram o maior sucesso. Mas muitos preferiram fazer seus próprios adereços. Ou melhor, muitas.
Em um canto, percebi um grupo de jovens mulheres com sacolas carregadas de coisas diferentes. Cartões, faixas, pulseiras. Elas estavam trocando lembrancinhas que tinham feito com outras torcedoras. O ponto de encontro foi marcado todos os dias pelo WeChat, aplicativo de conversas mais usado na China e, lá, elas aproveitavam para se conhecer pessoalmente e trocar presentes. Conversando com as torcedoras, encontrei desde fãs mais recentes até quem começou a ver F1 por influência do pai quando criança.
Mas nem todo mundo sabia tudo sobre os pilotos, como sempre acontece. Eu estava falando com um engenheiro da Haas e fui abordada por uma mulher que carregava vários cards na mão. Ela veio me perguntar se ele era o mesmo da foto do card. A foto era de Max Verstappen.
Talvez agora ela reconheça Verstappen um pouco mais facilmente, depois que o holandês venceu a sprint e o GP da China pela primeira vez, aumentando ainda mais sua vantagem na liderança do campeonato.
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