Newey fora da Red Bull: por que sair agora e qual o impacto para a equipe?
Com a confirmação de que Adrian Newey está deixando o projeto de F1 da Red Bull e sairá em definitivo da empresa no primeiro trimestre do ano que vem, ficaram algumas dúvidas: por que ele quis sair antes do final de seu contrato, quando ele pode começar a trabalhar e o que Newey efetivamente fazia na equipe que caminha para seu terceiro campeonato de construtores seguido?
Qual é o papel de Newey na Red Bull?
O engenheiro britânico coleciona nada menos que 25 títulos, entre equipes e pilotos, na carreira, tendo começado na F1 na brasileira Fittipaldi no final dos anos 1970. Ele é um engenheiro das antigas, com um conhecimento mais global de como fazer um carro de corrida veloz. E a Red Bull se organizou para conseguir tirar o máximo desse conhecimento.
Os departamentos de engenharia hoje são muito mais fragmentados (algumas equipes nem centralizam as ações em um único diretor técnico, por exemplo), então esses profissionais que têm a visão do todo são muito valiosos porque ajudam o time a basicamente economizar tempo. Newey serve como um atalho para a Red Bull.
Um bom exemplo foi o carro de 2022, o primeiro do regulamento atual. Tendo conhecimento prévio de carros com efeito-solo, Newey decidiu que focaria nas suspensões. Afinal, entendeu que seria importante manter uma distância consistente em relação ao solo e também entendeu que as regras dificultavam isso. Não coincidentemente, as suspensões da Red Bull e seus sistemas de anti-mergulho são fundamentais para o ótimo rendimento do carro.
Newey não desenha mais o carro, isso já vem de alguns anos. Ele, também, não vive o dia-a-dia da equipe, e inclusive comprou uma segunda casa na África do Sul, trabalhando de maneira remota de tempos em tempos. Há um time muito forte liderado por Pierre Wache (outro engenheiro muito bem quisto no paddock). Sua atuação não é tão ampla como já foi. Mas ela aponta caminhos vencedores principalmente quando se tem uma mudança de regulamento.
Quando Newey poderá trabalhar para outra equipe?
É por isso que os advogados de Newey focam em liberá-lo do período de quarentena pelo qual profissionais com muito conhecimento dos carros passam, por contrato, na F1. Adrian deixa de trabalhar totalmente no projeto de F1 agora, na tentativa de ser liberado para o que chama de "próximo desafio" já no segundo trimestre de 2025.
Isso é fundamental porque daria tempo para que ele tivesse influência no projeto do carro do ano seguinte, justamente quando a F1 muda o regulamento. Essas regras ainda não estão definidas e as equipes só podem fazer simulações em computadores e no túnel de vento a partir de janeiro.
Newey tem a ajuda do ex-chefe de equipe Eddie Jordan, que conhece bem as entranhas da F1 e seus contratos. Se essa liberação for confirmada, o valor da transferência de Newey será muito maior justamente pelo momento em que ela aconteceria, lembrando que, mesmo com as mudanças, conceitualmente os carros permanecem gerando a maior parte da pressão aerodinâmica por meio do assoalho, como hoje.
Sabe-se que a Aston Martin está preparada para abrir os cofres - o salário de Newey entraria nos três maiores do time, que não contam para o teto orçamentário - e a Ferrari, há anos, tenta contratar o britânico. Se for oferecido algo nos mesmos termos da Red Bull, uma espécie de papel de super consultor, ele nem precisaria se mudar para a Itália, o que foi um empecilho no passado.
Por que Newey quis deixar a Red Bull após quase 20 anos?
Fontes próximas à Red Bull insistem que a luta interna por poder que surgiu na lacuna da perda do co-fundador Dietrich Mateschitz é o motivo principal, mas Newey não estava satisfeito com a maneira como o chefe Christian Horner vinha diminuindo publicamente o valor de suas contribuições para a equipe.
É claro que Horner pensa no futuro, em valorizar profissionais mais jovens que poderiam, como aconteceu com o engenheiro Dan Fallows, atraído pela Aston Martin, sair do time por sentirem que não estavam sendo valorizados. Mas também havia o risco do próprio Newey querer outros desafios.
E também não é de hoje que o engenheiro busca projetos fora da F1, por acreditar que os regulamentos da categoria são muito restritivos - e são. Então o novo endereço precisa remediar tudo isso.
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