Piloto da F1 relembra medo e solidariedade em enchente que cancelou GP
A região em que a Fórmula 1 está correndo neste final de semana, nos arredores de Imola, sofreu com uma enchente de grandes proporções exatamente um ano atrás, quando a categoria deveria estar realizando o GP da Emilia Romagna. A situação era de calamidade, como no estado do Rio Grande do Sul no momento, com todas as vias de acesso bloqueadas, muita reclamação da população a respeito da falta de preparo do governo nos anos anteriores. E, também, muita solidariedade.
A água começou a cair com força enquanto a Fórmula 1 preparava as garagens em Imola, e o evento foi cancelado na quarta-feira, um dia antes do início das atividades de mídia. Então, poucos pilotos estavam na região. O caso do japonês Yuki Tsunoda, no entanto, era bem diferente. Ele mora em Faenza, perto da fábrica de sua equipe, a RB, uma das cidades mais atingidas. E acabou trocando o volante por rodos e vassouras enquanto ajudava os locais a limparem suas casas.
Perguntado pelo UOL Esporte sobre essa experiência, a primeira enchente de quem, como ele mesmo disse, está acostumado "à ameaça de terremoto 365 dias por ano no Japão", e bem longe de casa.
"Os helicópteros voavam constantemente por volta da meia-noite e não consegui dormir naquela noite. De manhã, quando saí, a cidade estava cheia d'água. Felizmente, minha casa estava bem, mas quando fui em direção à cidade foi piorando cada vez mais. Cheirava a gasolina e lama, era uma loucura", contou Tsunoda.
"Eu definitivamente estava com medo. Foi assustador com certeza e foi a primeira vez que experimentei isso. Felizmente eu sobrevivi, a maioria das pessoas estava bem, obviamente algumas não, mas foi definitivamente um momento difícil."
Por outro lado, Tsunoda tem lembranças positivas daqueles momentos pelo senso de pertencer à comunidade de uma cidade para a qual tinha se mudado dois anos antes. Ele se juntou a alguns membros da equipe e foi para a área mais afetada do centro de Faenza ajudar a recuperar os móveis e retirar a lama.
"Já morava aqui há dois anos e me sentia parte do povo. Foi uma coisa natural ajudar e acho que na verdade, não tenho certeza se é a coisa certa a dizer, mas foi um bom momento porque nós os ajudamos e ajudamos uns aos outros juntos. Foi apenas uma conversa natural de, ok, vou fazer essa rua e depois vou na sua. Obviamente as pessoas sofreram muito, mas vi muita gente sorrindo se ajudando e com certeza foi um momento especial. Foi difícil para muitas pessoas e elas lutaram muito, mas foi definitivamente um momento especial para se ter naquele momento."
Tsunoda contou que se surpreendeu com a rapidez como as coisas melhoraram. Diferentemente do que tem acontecido no Rio Grande do Sul, a chuva foi forte por alguns dias e parou. Na verdade, foram duas ondas: a primeira entre 2 e 3 de maio e a segunda, por dois dias uma quinzena depois. No total, 350 milhões de metros cúbicos de água, que causaram inundações em 23 rios e afetaram 100 cidades, em uma área de 800 quilômetros quadrados.
"Ainda me lembro da velocidade com que as pessoas se recuperaram daquela enchente, foi bastante impressionante. Foram três ou quatro dias e pensei que demoraria pelo menos um mês. Mas foi um momento muito difícil para nós."
Voltou a chover nesta quinta-feira em Imola e havia um alerta de tempestade para todo o dia, mas nada na mesma intensidade do que aconteceu um ano atrás. Então Tsunoda voltará a pilotar em Imola dessa vez, na sétima corrida do campeonato, que tem treinos livres nesta sexta-feira com duas sessões de uma hora cada a partir das 8h30 e 12h, pelo horário de Brasília.
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