Como Gil de Ferran fez a McLaren enxergar o caminho para voltar a vencer
Quando conquistou sua primeira vitória como chefe de equipe, pela McLaren, Andrea Stella apareceu para dar entrevista atrasado, molhado de champagne, extasiado. Na camisa, um broche com o capacete de Gil de Ferran. No celular, que acabou esquecendo na mesa quando terminou de responder as perguntas, um adesivo com o nome do brasileiro, que era seu braço direito na equipe até dezembro do ano passado, quando faleceu de forma repentina após um ataque cardíaco.
Fui entregar o celular a ele, que aproveitou para dizer que esses adesivos eram muito presentes nos celulares e computadores do pessoal da McLaren e para salientar que aquela vitória estava sendo dedicada para ele, algo que o CEO da McLaren e homem que trouxe Gil para a McLaren, Zak Brown, já tinha dito antes da primeira etapa, no Bahrein. "Nós vamos ganhar nesse ano, e vamos dedicar a vitória para ele."
O valor de ter na equipe alguém como Gil de Ferran, com sua trajetória como piloto e como empresário dentro do automobilismo, é muito claro. Mas Stella disse em entrevista exclusiva ao UOL Esporte que, nesta sua última passagem pela McLaren, trabalhando diretamente com ele como conselheiro do chefe de equipe, o brasileiro foi fundamental para apontar em que pontos e de que maneira a equipe poderia evoluir.
"Ele ajudou as pessoas a entenderem onde está o próximo passo. Como posso me tornar mais competente tecnicamente? Como posso deixar o carro mais rápido? Como posso me tornar emocionalmente mais resiliente? Como podemos melhorar a dinâmica de grupo numa determinada área? Ele foi um facilitador para entender qual é o próximo passo para melhorar. E isso aconteceu em uma série de áreas onde isso é técnico, de engenharia, pessoal. É muito único poder encontrar alguém que inclua essa gama de conhecimentos."
Stella disse ainda ter aprendido muito com a maneira "sem julgamentos" com a qual Gil de Ferran abordava as questões, pois isso fazia com que as pessoas se abrissem e as ideias fluíssem melhor.
"Ele era uma pessoa incrível para conversar. É como se você gerasse boas ideias, sentimentos e energias só porque você teve uma boa conversa com Gil. Ele realmente entendia as pessoas com uma qualidade incrível de nunca parecer que estava julgando ninguém."
E essa convivência tem ajudado Andrea a conseguir extrair o melhor das pessoas da equipe, o que, na F1, tem efeito direto no cronômetro. É fato que a McLaren passou por mudanças importantes financeiramente, em uma reestruturação capitaneada pelo CEO Zak Brown, e arriscou ao investir pesado em um novo simulador e túnel de vento em um momento economicamente delicado.
Chegar na McLaren não é uma questão de "quando" para Stella
Agora, eles começam a colher os frutos. A equipe começou a temporada passada amargando as últimas posições do grid e terminou o ano com nove pódios. Em 2024, não apenas voltou a vencer, como tem sido a equipe mais constante nas últimas etapas, andando bem em pistas bem diferentes.
Seria uma questão de "quando" a equipe lutará de igual a igual com a Red Bull de Verstappen, com essa trajetória tão ascendente?
Stella salienta dois pontos importantes. Primeiro, é uma questão de "se" a McLaren pode continuar evoluindo o carro. Segundo, uma coisa é ganhar algumas corridas, somar alguns pódios. Outra é ter a regularidade em alto nível que a Red Bull vem apresentando nos últimos anos.
Um bom exemplo foi o da última corrida, no Canadá. Em vários momentos da prova, a McLaren teve o carro mais rápido, mas a gestão da estratégia não foi perfeita, o próprio Lando Norris acha que não usou o ritmo do carro da melhor maneira. E quem saiu vencedor foi justamente Verstappen.
"Estamos muito atrás nesta jornada e vamos continuar a nos desenvolver nesse sentido. Poucas equipes na história da F1 foram capazes de alcançar o que eles estão conseguindo nestes anos. E esperamos poder fazer parte desta elite."
Não têm faltado emoções, boas e ruins, na McLaren nas últimas provas. Delas, vem a energia, os dados, e as soluções na equipe de Andrea Stella.
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