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Como engenheiro sondado por Hamilton foi fundamental para tática da Ferrari

Que a Ferrari foi criticada por suas estratégias nos últimos anos, não é segredo. Que tem havido uma melhora nas decisões, também. Mas no GP da Grã-Bretanha do último domingo, Charles Leclerc tomou uma decisão desastrosa de colocar pneus intermediários quando a pista estava secando, enquanto o companheiro Carlos Sainz fez uma estratégia perfeita por toda a prova, tendo como engenheiro de pista Riccardo Adami, fortemente cotado para trabalhar com Lewis Hamilton a partir de 2025. Como isso é possível?

Como a Ferrari melhorou suas estratégias e quem decide?

Primeiro, temos que entender algumas coisas mais básicas. Os problemas de estratégia geralmente acontecem por dois fatores: decisões baseadas em informações erradas e má comunicação. Essas informações erradas geralmente vêm de modelos que estão errados lá na fábrica e que não vão prever corretamente como, por exemplo, a temperatura vai afetar o desgaste de um pneu.

O ex-chefe da Ferrari, Mattia Binotto, fez um trabalho extenso para que esses erros não acontecessem mais, contratando profissionais que eram muito bons em entender os pneus. E os frutos estão sendo vistos agora. A Ferrari tem feito escolhas melhores, e isso não tem diretamente a ver com a chegada de Fred Vasseur no início de 2023. Ele continuou o trabalho de Binotto.

As equipes têm uma equipe de engenheiros (parte trabalhando na fábrica, parte nas pistas) tomando decisões estratégicas. E os chefes de estratégia, com base nas informações que são passadas para eles, têm a última palavra.

Ou seja, não é o chefe de equipe quem decide, não é o engenheiro de pista, não é o piloto. É o time de estratégia, com base em uma enormidade de dados que os sistemas deles processam.

Engenheiro de pista é importante quando chove

Mas há um tipo de situação em que o cenário muda: quando há chuva. Não há estratégia pior do que ficar na pista com muita chuva (como aconteceu com Oscar Piastri em Silverstone no domingo) ou de colocar pneu de chuva quando a pista está seca (como aconteceu com Charles Leclerc e Sergio Perez).

Neste tipo de situação, a comunicação entre o engenheiro de pista e o piloto se torna fundamental. Porque a informação que o profissional passa vai ajudar o piloto a tomar a decisão correta com base no que ele está vendo na pista e no que espera para o futuro.

O engenheiro de pista não é estrategista. O papel dele é passar as informações que estão sendo discutidas em comunicações via rádio que não escutamos dentro da equipe e ajudar o piloto com a configuração do carro, com o quanto ele deve forçar, etc.

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No GP da Grã-Bretanha, Adami mostrou por que Lewis Hamilton tem procurado saber mais sobre ele, e por que o heptacampeão tem ouvido muitos elogios sobre o engenheiro que já trabalhou também com Sebastian Vettel.

Como comunicação entre engenheiro e Sainz resultou em estratégia perfeita

A dupla Adami e Sainz tomou as decisões corretas em Silverstone - da mesma forma que a dupla bastante afinada Gianpiero Lambiase e Max Verstappen: parar na volta 26 para trocar pneus de seco para intermediários e na volta 38 para colocar pneus de pista seca novamente.

Adami e Sainz usam as cores do radar para terem uma comunicação precisa. Então, ao invés de ouvir que "vai chover forte em 10 voltas", Sainz ouviu que a "curva 15 estará azul-claro por duas voltas." Ele sabe qual o tipo de intensidade de chuva que o azul-claro representa, então primeiro sabe o que esperar quando chegar na curva 15 e por quanto tempo vai ter que aguentar.

Carlos Sainz faz pit stop durante o GP da Grã-Bretanha de 2024
Carlos Sainz faz pit stop durante o GP da Grã-Bretanha de 2024 Imagem: Ferrari/Divulgação

Até porque esse era o cenário: choveria por algumas voltas, mas com intensidade de baixa a moderada, e depois cairia mais água. Do outro lado da garagem, a comunicação entre o engenheiro de Leclerc, Bryan Bozzi e o piloto, era muito mais vaga. Essa dupla começou a trabalhar junta no final de abril, então certamente isso servirá de aprendizado para ambos.

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Em um momento crucial, na volta 16, Adami diz para Sainz que o nível de chuva é azul-claro e a previsão é de que passe para "de verde a amarelo com duração de duas a três voltas". Sainz pede para que ele seja específico quando isso ocorrer, e se a chuva será verde ou amarela. Essas são as cores de qualquer previsão meteorológica. Azul-claro é mais fraco e amarelo é mais forte.

Bozzi, por outro lado, diz para Leclerc "a chuva forte deve durar duas ou três voltas". Pouco depois, diz que "está chovendo forte no pitlane". Leclerc pergunta por quanto tempo isso vai durar e ouve que serão 10 minutos. É quando ele escolhe trocar os pneus de pista seca por intermediários. Mas a chuva não é forte o suficiente para estes pneus funcionarem, e ele tem que parar de novo quando chove de vez algumas voltas depois, acabando com sua corrida. Com muito mais informação sendo passada pelo engenheiro e com uma comunicação bem mais precisa, Sainz fica na pista.

No final da corrida, Sainz terminou em quinto e Leclerc não pontuou.

Esse é um exemplo muito bom de como a relação entre o engenheiro de pista e o piloto pode fazer a diferença. Não é por acaso que, quando a comunicação entre piloto e engenheiro funciona, essas parcerias tendem a ser longevas, como no caso de Lambiase e Verstappen, que trabalham juntos desde 2016, e do próprio Hamilton e Peter Bonnington, juntos desde 2013.

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