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Opinião

Ralf Schumacher se declara a um homem e mostra como a F1 ainda engatinha

Demorou anos para Ralf Schumacher, ex-piloto da F1 entre 1997 e 2007 e irmão de Michael Schumacher, se sentir à vontade para compartilhar em seu Instagram uma foto com o companheiro. E não é por acaso. Ele se tornou somente o terceiro ex-piloto da categoria a falar abertamente sobre sua homossexualidade.

Foram anos de rumores e comentários costumeiramente depreciativos sobre a vida íntima do alemão, que hoje é comentarista da TV de seu país e segue frequentando o paddock. Ralf foi casado com uma mulher por 14 anos e teve um filho, David, que também é piloto.

Ralf Schumacher, ex-piloto de Fórmula 1
Ralf Schumacher, ex-piloto de Fórmula 1 Imagem: Reprodução/Instagram

"Estou muito feliz que você finalmente encontrou alguém com que se sente confortável e seguro, não importa se é um homem ou uma mulher, estou 100% do seu lado", escreveu David em suas mídias sociais.

A postagem de Ralf, uma foto abraçado com seu companheiro vendo o pôr do sol com os dizeres "a coisa mais bonita da vida é quando você tem o parceiro certo do seu lado com quem você pode dividir tudo" tinha mais de 350 mil curtidas depois de 18 horas. Nenhuma delas, contudo, dos pilotos do atual grid. E só de uma equipe, a Mercedes.

Espero que isso mude nos próximos dias. A F1 tem trabalhado bastante no sentido de aumentar o escopo de seu público, principalmente mudando a maneira como as mulheres são retratadas nas transmissões, que também sempre vão buscar os ainda raros membros das equipes negros. Também há uma preocupação em atrair um público mais jovem, inclusive com uma iniciativa que começou ano passado de fazer uma transmissão feita por e voltada a crianças e adolescentes.

A comunidade LGBTQIA+ batalha para ser incluída também, mas parece ser o grupo que mais enfrenta resistência. A iniciativa Racing Pride, fundada em 2019 pelo piloto de protótipos Richard Morris, busca dar visibilidade às barreiras enfrentadas por este público e hoje conta com 14 embaixadores entre pilotos e pessoas que trabalham ou já trabalharam em equipes.

Nenhum destes pilotos, contudo, está na F1 ou tem passagem pela categoria. Na verdade, a categoria jamais teve um piloto abertamente homossexual. Foi anos depois de sair da F1 que Jaime Alguersuari fez uma postagem falando sobre sua sexualidade e, décadas antes, Mike Beuttler fez história.

Mas a vida de Beuttler mostra bem a realidade de pilotos homossexuais. Os amigos mais íntimos sabiam de sua orientação sexual, mas ele sentia a necessidade de ir às corridas acompanhado de modelos, fingindo que tinha namoradas, para ser aceito. Depois de deixar a F1 por falta de patrocínio, ele sumiu do mapa para as pessoas que conheceu no automobilismo. Foi morar na Califórnia e morreu vítima de AIDS em 1988.

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Nos últimos anos na F1, Sebastian Vettel e Lewis Hamilton usaram a plataforma que têm para chamar a atenção para o fato da categoria correr em países em que os direitos da comunidade LGBTQIA+ não são respeitados. Hamilton por várias vezes usou as cores do arco-íris em seu capacete, com a frase "amor é amor", mais recentemente nas corridas de junho, o mês do orgulho LGBTQIA+. E também costuma fazer o mesmo em países como a Hungria, palco da etapa deste fim de semana, Qatar, Abu Dhabi e Arábia Saudita.

Sebastian Vettel também abraçou a causa, influenciado inclusive por um dos embaixadores do Racing Pride, Matt Bishop, que na época era chefe de comunicação na equipe Aston Martin. Veio de Bishop a conexão para o alemão estampar a capa da revista Attitude, voltada à comunidade LGBTQIA+. "Talvez esse não fosse o caso no passado, mas acho que um piloto de F1 gay seria bem-vindo, e deveria. Sinto que ter um piloto gay aceleraria a eliminação do preconceito e ajudaria a fazer nosso esporte ir na direção certa. Então acho e espero que nosso esporte esteja pronto para isso."

Chegou a hora de mostrar isso.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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