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Da saída de Newey à fúria de Verstappen: como a Red Bull perdeu o domínio

Max Verstappen teve um verdadeiro dia de fúria no GP da Hungria, reclamando dos comissários, do comportamento do carro, da estratégia, de manobras dos adversários. A Red Bull perdeu o domínio que tinha e perdeu, também, personagens importantes para o sucesso do time. É um cenário que foi se desenvolvendo ao longo dos últimos dois anos e que tem frustrado muito o tricampeão.

O quinto lugar de Verstappen não é nenhum desastre, mas vale lembrar que a Red Bull vinha de uma sequência impressionante. Eles só tinham perdido duas provas de junho de 2022 até março de 2024. Mas começaram a ver já no final do ano passado os rivais irem se aproximando aos poucos até que a tranquilidade com que o holandês dominava as corridas acabou.

Como sempre na F1, não há apenas um motivo. Porém, por mais que as próprias regras da categoria sejam feitas para que haja conversão entre as equipes com o tempo, há fatores internos da Red Bull que ajudam a explicar essa queda. E por que Verstappen passou a cobrar publicamente a equipe.

A preocupação que existia a respeito do futuro da equipe quando o co-fundador da empresa Red Bull, Dietrich Mateschitz, adoeceu, está se confirmando. O austríaco tinha pulso firme e era bastante decidido, dando agilidade à organização.

Isso ficou no passado, e foi agravado pelas tentativas de Christian Horner de aumentar sua esfera de influência. E ele não foi o único. O diretor técnico Pierre Wache também quis tomar mais a dianteira nas decisões no campo da engenharia.

Perdendo espaço, Newey decidiu sair

Adrian Newey nos boxes da Red Bull em Jeddah, no mês passado
Adrian Newey nos boxes da Red Bull em Jeddah, no mês passado Imagem: Mark Thompson/Getty Images

Foram dois movimentos que acabaram desequilibrando as relações dentro da equipe, já que Horner tirou poder de Helmut Marko e Wache tirou influência de Adrian Newey. O projetista mais vencedor da história da Fórmula 1 não concordou com mudanças mais radicais feitas no projeto do carro deste ano, se sentiu deixado de lado, e decidiu sair do time.

Não dá para cravar que foram essas mudanças que permitiram a chegada dos rivais ou se ela aconteceria de qualquer maneira. Mas o fato é que desde o ano passado a Red Bull não consegue ganhar tanto quanto os rivais com as atualizações, e é possível que o carro tenha ficado tão complicado que é mais difícil desenvolvê-lo.

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Isso era menos visível ano passado porque Mercedes e Ferrari tiveram seus altos e baixos. Mas quando a McLaren passou a melhorar constantemente, há pouco mais de um ano, eles foram diminuindo pouco a pouco a diferença até o último grande passo no GP de Miami. A partir daí, o cenário ficou equilibrado entre as duas equipes e outros fatores, como a estratégia, passaram a decidir as corridas.

FIA não interferiu no carro da Red Bull

A convergência de rendimento é algo encorajado pelo regulamento, como lembrou o próprio Verstappen na Hungria. "Temos menos tempo de túnel de vento e isso com certeza não ajuda, mas não gosto de ficar dando desculpas", disse ele, referindo-se a uma regra que limita o desenvolvimento aerodinâmico dependendo da posição de cada equipe no campeonato. Desde a segunda metade de 2022, a Red Bull é a equipe com menos tempo disponível.

Há de se reconhecer, também, o ótimo trabalho de desenvolvimento da McLaren, que começou o ano passado entre as últimas colocadas. E, embora circule desde o início de maio no paddock um rumor de que a Federação Internacional de Automobilismo tenha pedido para a Red Bull fazer alterações no carro depois de encontrar algo irregular, isso não é confirmado nem extraoficialmente nem do lado da equipe, nem do lado da FIA.

E não há motivos para acreditar que isso realmente tenha acontecido. Os tempos de volta estão caindo, indicando uma evolução de todos, e não uma queda da Red Bull. Na verdade, a FIA interferiu recentemente no carro da McLaren, mas mesmo assim eles continuaram com um bom rendimento.

A queda da Red Bull pode fazer Verstappen sair?

São finais de semana como este da Hungria que mostram o quão insatisfeito Verstappen está com a falta de reação de sua equipe. "Acho que nem todos percebem a situação, eu acho. Comigo eles sabem que eu não dou desculpas, sou muito aberto. Acho que algumas pessoas precisam acordar um pouco."

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A Red Bull estava confiante de que as novidades que eles estrearam neste fim de semana gerariam um salto importante. E isso não aconteceu, pelo menos nesta primeira etapa. "O carro da McLaren trabalha em uma janela maior do que a nossa, o carro tem um janela muito pequena e isso está tornando a vida dos engenheiros difícil. Mas sabemos disso e estamos trabalhando", disse Christian Horner após o GP da Hungria.

Isso em si não é um problema para Verstappen, líder disparado do campeonato, mas a questão é mais a médio e longo prazo. A Red Bull não é mais a mesma organização com a qual ele firmou um longo contrato no começo de 2022. E o holandês demonstra acreditar que existe algo mais nessa dificuldade de evoluir o carro do que a questão do tempo limitado de desenvolvimento e da dificuldade em se ganhar performance quando já se tem um carro bastante forte.

Fontes ligadas a ele acreditam que este momento do campeonato é importante para ele decidir sobre o que fazer a médio prazo. Neste fim de semana, Marko se comprometeu a ficar até pelo menos até 2026, o que em teoria impediria que Verstappen possa rescindir seu contrato (que é ligado à presença do austríaco). E Jos Verstappen foi visto conversando amigavelmente com Horner, depois de meses de tensão entre eles. Mas não faz sentido para equipe nenhuma manter um piloto que não quer ficar, e não é de hoje que a Red Bull já avisou a Carlos Sainz para ele manter suas opções em aberto caso eles precisem de um novo primeiro piloto.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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