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Band tratou bem a F1, mas produto ficou caro demais para a emissora

A TV Bandeirantes confirmou internamente que vai deixar de transmitir a Fórmula 1 na próxima temporada, após quatro anos, deixando a porta aberta para que a TV Globo, que já mantinha conversas com os detentores dos direitos comerciais da categoria desde o ano passado, volte a mostrar as corridas, embora tudo indique que este acordo esteja muito bem encaminhado, mas não tenha sido completamente finalizado.

Internamente, a programação segue a mesma em relação às próximas etapas na Band, mas há pendências de pagamento ainda pela frente. De momento, o que está 100% decidido é que a F1 não fica na Band em 2025.

Não será apenas uma mudança de canal

Por contrato, a Band mostrava, na TV aberta, todas as classificações ao vivo, todas as corridas, e tinha que fornecer o que a F1 chama de "produção robusta", com equipe in loco fazendo entradas ao vivo. O investimento que isso requer incentivava a emissora a começar suas transmissões antes da ação da pista - meia hora antes aos sábados, e uma hora antes, dependendo das praças, da largada aos domingos. Isso, além da cerimônia do pódio, que vinha sendo deixada de lado pela Globo anteriormente.

A Liberty Media, empresa que controla a F1, fez essas exigências porque sabia que estava partindo de uma emissora poderosa comercialmente como a Globo para outra que, embora tenha tradição na transmissão de esportes, não teria a mesma audiência e, consequentemente, não entregaria os mesmos números.

O risco por parte da Band era grande. Os custos de produção de um campeonato com 24 etapas ao redor do mundo é alto, e o lucro depois disso seria dividido entre a emissora e a F1. Após uma série de problemas com este modelo, a categoria adotou uma abordagem mais tradicional para esta temporada, com o pagamento de uma taxa anual em vez da divisão dos lucros.

O problema para a Band é que as cotas publicitárias já não estavam sendo vendidas nos mesmos valores em que foram negociadas inicialmente. Prova disso é o processo aberto pela emissora para a cobrança de uma dívida de 20 milhões de reais de um patrocinador. O valor de tabela cheia para a temporada 2023 era 15 vezes maior que isso.

Uma série de fatores colaborou para essa depreciação, mas é claro que a audiência baixa não ajudou. Após a empolgação de uma transmissão diferente e de um dos melhores campeonatos da história em 2021, veio a queda. E os "boletos" continuaram vencendo.

Globo não era a única interessada

A Liberty Media teve proposta de uma outra televisão no final de 2023, e também foi sondada por um canal de streaming, mas decidiu seguir com a Band em 2024, esperando que a mudança de modelo de pagamento melhorasse a situação.

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Ao mesmo tempo, desde a segunda metade do ano passado, conversava com a Globo, que primeiramente sentou à mesa falando em transmitir só as principais corridas na TV aberta e em tomar controle do aplicativo da F1, o F1TV, nos moldes do que a emissora tentou fazer com o UFC no passado.

Nos últimos meses, ambas as partes foram chegando em denominador comum, com 10 a 12 corridas na TV aberta, com as classificações e demais provas indo para o SporTV. A avaliação da Liberty é de que, ao longo de uma temporada, a audiência seja similar ao das 24 corridas mostradas na Band.

Globo quer um piloto brasileiro

Quando a Globo decidiu não renovar seu contrato com a F1, em 2020, a leitura era de que o produto não combinava mais com a emissora. De lá para cá, muito em função do documentário Dirigir para Viver, da Netflix, o público se renovou e se diversificou. Mas, ainda assim, não atende a uma questão que a emissora sempre viu como fundamental: ter um piloto brasileiro no grid.

O Brasil não tem representantes no grid desde a despedida de Felipe Massa em 2017. Não dá para cravar que isso vá mudar com a volta da Globo. Gabriel Bortoleto está no páreo para uma vaga na Sauber, mas todo esse imbróglio dos últimos anos e a diminuição do número de corridas na TV aberta minam o grande poder que a emissora tinha no passado: o Brasil nunca teve os contratos televisivos mais lucrativos, mas ganhava importância no cenário global da F1 por conta da audiência.

O Brasil ainda é o país mais populoso em que a F1 tem grande apelo. Vamos descobrir o quão forte ele ainda é.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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