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Mudança na transmissão da F1 no Brasil vem em boa hora para brasileiro

A iminente confirmação de que a TV Globo vai voltar a ter os direitos de transmissão da Fórmula 1 no Brasil chega em um bom momento para o piloto brasileiro Gabriel Bortoleto, que conversa com a Sauber para ter uma vaga no grid em 2025. Afinal, dentro do difícil emaranhado de interesses que está por trás da definição de quem entra ou não entre os titulares da categoria, entra uma parceria mais estável e com expectativas diferentes para o país.

A relação comercial entre a F1 e a TV Bandeirantes, que está com os direitos desde 2021 e já confirmou internamente que deixará de transmitir as corridas ano que vem, um ano antes do fim de seu contrato, foi se deteriorando com o tempo. Isso aconteceu por problemas quando o regime comercial era de revenue share (ou seja, após os custos de produção serem descontados, metade dos ganhos ia para a TV e metade para a F1) e depois atrasos no pagamento de parcelas quando tal regime foi alterado para esta temporada.

A audiência também se deteriorou. Depois de inclusive bater a Globo no GP de São Paulo de 2021, a Band amargou o quarto lugar na audiência em algumas etapas, o que trouxe reflexos financeiros, obrigou o comercial a diminuir o valor das cotas e tornou a situação insustentável.

Dentro deste contexto, a força política da Band para tentar ajudar pilotos brasileiros não era grande. E também havia uma consultoria informal que pecava no entendimento de como o teto orçamentário está afetando no mercado de pilotos e fez com que as equipes ficassem com um pé atrás com quem tem menos experiência.

Afinal, principalmente Haas e Williams tiveram exemplos recentemente de pilotos que trouxeram investimento, mas gastaram tanto com batidas que comprometeram o desenvolvimento das equipes ao longo do ano, lembrando que o custo de batidas entra na conta do limite de gastos.

Como a Globo pode ajudar?

Do ponto de vista da F1, o Brasil está longe de ser prioridade. A maneira apressada como o norte-americano Logan Sargent chegou à categoria mostra o quão necessário é para o esporte ter um piloto do país que hoje tem mais GPs do que qualquer outro.

Porém, com a volta da Globo, há certa mudança de patamar. Não para os torcedores, que deixarão de ver grande parte do que assistem hoje em TV aberta, mas no potencial de visibilidade para patrocinadores e para os próprios números de audiência, mesmo com uma queda significativa das horas de exibição da categoria.

E a TV Globo sempre entendeu que ter um piloto brasileiro era algo mais valioso, até, do que seguir com o GP de São Paulo. Mesmo que o Brasil não tenha a audiência do passado e muito provavelmente nunca mais venha a ter esses números, com a migração da maior parte das transmissões para o SporTV, a Globo tem uma posição mais sólida.

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Sobre essa questão do poder da audiência brasileira, é bom fazer um parênteses: o país é o mais populoso dentre aqueles em que a F1 tem um público significativo. Estamos comparando com o Reino Unido, com a Itália, com o Japão. Esse sempre foi o poder do país dentro das negociações da categoria, até porque os valores cobrados pelos direitos são muito inferiores aos negociados nas TVs europeias.

Falando em audiência, é fato: todo mundo que trabalha com automobilismo no Brasil enxerga uma latência no interesse pela F1 e projeta números muito maiores para quando o país voltar a ter um piloto como titular, algo que não ocorre desde 2017.

Bortoleto está desenhando a carreira perfeita

Fernando Alonso cumprimenta Gabriel Bortoleto após vitória na F3
Fernando Alonso cumprimenta Gabriel Bortoleto após vitória na F3 Imagem: A14 Management/Instagram

Mas que diferença a mudança na transmissão faz, de fato? A maneira como a carreira de Bortoleto está sendo gerida busca cercar tudo o que é importante para a F1 hoje de maneira pragmática. Com um plano de apoio financeiro sólido de médio prazo, foram feitos investimentos importantes para garantir que ele corresse em equipes de boa estrutura na F3 e na F2, para que fosse empresariado pela agência de Fernando Alonso, para que conseguisse entrar no programa de jovens pilotos da McLaren.

E Bortoleto tem feito a sua parte, aproveitando ao máximo essa oportunidade com o título da F3 no ano de estreia e estando atualmente no vice-campeonato da F2, também como estreante. Na McLaren, ele segue no programa mesmo que seu 'padrinho' por lá, Emanuele Pirro, tenha saído logo depois de sua entrada, e obtendo a fundamental possibilidade de testar um F1.

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Cada um desses elementos conta na hora de entrar na F1. Os resultados na base vão depender da performance em si e também do nível de equipe em que você está. Mesmo uma família que está dentro do automobilismo no Brasil, como é o caso de Bortoleto, preferiu deixar que a carreira dele fosse cuidada por quem tem experiência específica na F1. A relação com uma equipe de F1 começou já no pós-F3. Há uma continuidade no patrocínio.

Não existe uma cartilha única do que fazer para chegar na F1. Mas agora existe uma janela interessante porque os estreantes podem testar à vontade (dependendo do orçamento, claro) com carros do regulamento atual, e têm um ano para se adaptar até a chegada de um novo conjunto de regras, quando todo mundo começa mais do zero. Não é à toa que já temos três novatos confirmados para 2025. Dentro deste contexto, a mudança nos direitos pode servir como um "critério de desempate" que agora será mais favorável a um piloto brasileiro.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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