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Como volta da McLaren ao topo e contratação de peso da Aston estão ligados?

Depois de 10 anos vendo os suspeitos de sempre lutando por vitórias: a Mercedes, a Red Bull, e a Ferrari com seus altos e baixos, a temporada 2024 ficou mais "colorida" com a presença da McLaren nas primeiras filas e pódios, enquanto a Aston Martin conseguiu assegurar os serviços do projetista mais vencedor da história, Adrian Newey, cuja contratação foi confirmada pela equipe nesta terça-feira (10), dando mais um passo em seu plano de entrar neste time dos grandes.

Uma regra adotada no meio da pandemia, e uma decisão comercial genial, permitiram tudo isso. O teto de gastos finalmente saiu do papel em 2020, começando a ser adotado em 2021. Ele controla tudo o que pode ser investido em performance, além de ter outros mecanismos mais específicos para limitar o gasto com a folha de pagamento e com o investimento em infraestrutura.

Ainda estamos entendendo quais os efeitos da adoção do teto orçamentário a longo prazo. Nos primeiros anos, as equipes maiores tiveram que enxugar muito sua estrutura e perderam vários profissionais.

Mas só o controle de gastos não faria os times faturarem mais. Havia o temor de que o valor do limite fosse alto demais para surtir efeito no grid todo.

É aí que entra o efeito "Dirigir para Viver", a série documental da F1 na Netflix que mudou a percepção da categoria entre o público jovem e trouxe muitas oportunidades de negócio para os times.

Não dá para dizer que está sobrando dinheiro para todos, mas hoje o grid todo fica de olho nos limites do teto, e não apenas os grandes.

Para as equipes médias, isso significou a contratação de funcionários gabaritados quando os grandes tiveram que cortar a folha de pagamento e também dinheiro suficiente para investir em infraestrutura.

E chegamos ao crescimento da McLaren e a essa contratação da Aston Martin. Afinal, Newey foi atraído não apenas por um projeto ambicioso, mas por uma estrutura de primeira linha pensada por profissionais vencedores em outras equipes.

Por que só as peças da McLaren funcionam?

Oscar Piastri e Lando Norris, pilotos da McLaren, após classificatório do GP da Hungria de Fórmula 1
Oscar Piastri e Lando Norris, pilotos da McLaren, após classificatório do GP da Hungria de Fórmula 1 Imagem: Jakub Porzycki/NurPhoto via Getty Images
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É claro que, em se tratando de Fórmula 1, nunca dá para creditar a apenas um fator a melhora ou a queda do rendimento de uma equipe, e a McLaren teve uma vantagem importante em relação ao quem são hoje seus rivais diretos por conta de outra regra adotada nos últimos anos: a diferença de horas de desenvolvimento aerodinâmico dependendo da posição no campeonato.

A McLaren vinha de um 2022 ruim, então tinha mais tempo de desenvolvimento, lembrando que esse cálculo é feito duas vezes na temporada: no final do ano e no final de junho. Isso vai determinar como serão os próximos seis meses de desenvolvimento.

O time de Lando Norris e Oscar Piastri começou a virar o jogo ao entender e se inspirar antes dos demais no que a Red Bull estava fazendo, mas só conseguiu realmente competir com eles quando passou a usar esse tempo a mais em conjunto com seu novo túnel de vento, cujos efeitos foram vistos nesta temporada.

A próxima equipe a ter um túnel de vento totalmente novo será a Aston Martin. Trata-se de um equipamento que usa inclusive lasers para entender o fluxo de ar que age no carro, e que está próximo de entrar em operação no terceiro prédio do que hoje a equipe não chama mais de fábrica, mas sim de campus.

Este tipo de investimento tem muito a ver com o teto e com a atual saúde financeira da F1.

Ter um túnel de vento novo atualizado é uma grande vantagem. Problemas entre os dados que o túnel de vento gera e os vistos na pista são a principal causa de perda de rendimento durante uma temporada, já que se testa muito pouco em pista (também por força do regulamento). E é difícil para uma equipe atualizar um túnel de vento que esteja em operação, pois você teria que mudar para outro equipamento e isso geralmente significa um período de adaptação aos novos dados.

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A McLaren deixou de usar o seu há mais de 10 anos, vinha alugando um equipamento na Alemanha, e agora fez seu novo equipamento do zero no mesmo lugar do anterior. A Aston Martin fez tudo do zero, enquanto aluga o túnel de vento da Mercedes.

E a próxima equipe a ter um túnel de vento novo será a Red Bull, provavelmente no final de 2026, também construindo a estrutura do zero. Por regulamento, eles estão entre os times que podem gastar menos com infraestrutura, justamente para tentar igualar mais o grid, então terão de administrar bem seus gastos durante essa obra.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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