Hamilton fala sobre desafios com saúde mental e o que fez expor o racismo
Lewis Hamilton chegou a usar o termo depressão para descrever as dificuldades que teve com sua saúde em alguns momentos de sua vida, contou como sente que sua mente está mais "refinada" atualmente e revelou o que o fez tornar a luta contra o racismo uma prioridade na sua vida, em uma rara entrevista exclusiva, para a edição de domingo do jornal britânico The Times, em um ano de transição para ele, que está deixando a Mercedes e indo para a Ferrari.
"Quando estava nos meus 20 e poucos anos, tive algumas fases muito difíceis. Na verdade, eu tive dificuldades com minha saúde mental durante a minha vida. Depressão. Desde muito cedo, eu tinha uns 13 anos. Acho que foi a pressão do automobilismo e de ter dificuldades na escola, o bullying. Eu não tinha ninguém para conversar", disse o heptacampeão da F1.
Filho de uma mãe branca inglesa e um pai negro também inglês, mas de ascendência grenadina, no Caribe, Hamilton contou que o racismo nunca foi um assunto em casa, mesmo com ele tendo ido morar na casa do pai poucos anos depois da separação do casal, quando ele tinha dois anos.
"Não dava para escapar disso", disse ele sobre o racismo. "Você experimenta isso na escola, nos parques, andando na cidade. Não entendia e meus pais nunca falaram sobre isso comigo. Nunca me explicaram o que estava acontecendo. Meu pai só falava ‘Mantenha a cabeça baixa, segure firme, não diga nada, apenas vença na pista, é tudo o que você pode fazer.’"
Perguntado se foi procurar ajuda para lidar com a saúde mental, Hamilton disse que falou "com uma mulher uma vez, mas não ajudou muito. Gostaria de achar outra pessoa hoje". Mas o britânico passou por retiros silenciosos e leu livros sobre saúde mental, e se sente mais bem informado hoje sobre o tema.
"Você aprende sobre coisas que foram passadas a você por seus pais. Notando esses padrões, como você reage às coisas, como você pode mudá-las. Então, o que pode ter me irritado no passado não me irrita hoje. Estou muito mais refinado."
Esse autoconhecimento ajudou Hamilton quando ele viveu um momento muito difícil, vendo as imagens do assassinato de George Floyd pelo policial Derek Chauvin, em 2020.
"Eu sentia que havia coisas erradas, não sentia que podia falar. Ali, foi o estopim. Fiquei de joelhos em lágrimas, soltei toda essa emoção. Foi uma experiência tão estranha porque não me lembro de chorar desde que era muito jovem. Eu sabia que já tinha tido o suficiente, eu realmente precisava falar. Há pessoas que estão em silêncio, pessoas que se sentem sem voz e eu tenho essa plataforma. Ganhar campeonatos é uma coisa incrível, mas o que você está fazendo com isso? O que você está fazendo com seu tempo neste planeta?"
Desde então, calcula-se que Hamilton tenha gasto 20 milhões de libras (mais de 145 milhões de reais) em diversas iniciativas, especialmente a Hamilton Comission, que busca identificar as barreiras para aumentar a diversidade no automobilismo e buscar maneiras de erradicá-las.
Além de trabalhar diretamente com a indústria automobilística britânica, ele também está se aventurando na produção de filmes, sempre com o foco da diversidade. "Quero poder contar histórias de diversidade. Filmes mudaram minha vida, sempre me inspirei muito com eles."
Com filmes e com a vida real também. "Para ser um bom piloto, não é só uma questão de ser rápido. Você precisa ser bom em tudo. Quando eu estudo as lendas, elas estão separadas por uma margem muito pequena, então é uma questão do pacote completo - sobre o que eles falam, o que eles defendem? - é isso o que eu observo. Sou influenciado por Ayrton Senna e Nelson Mandela, são essas duas pessoas juntas que eu quero ser."
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