Pole Position

Pole Position

Só para assinantesAssine UOL
Opinião

Como a Renault acertou a mão no motor e decidiu sair da F1 como fabricante

O processo que começou com consultas em abril e tomou forma em junho foi comunicado aos funcionários da fábrica de Viry: a Renault vai parar de fabricar motores para a F1. Uma decisão puramente comercial, de quem olhou para os gastos e comparou com o que seria investido na compra de unidades de potência como cliente. E essa é uma conta que só bate do ponto de vista esportivo se o projeto não for o de vencer campeonatos mas, sim, de vender o time.

Olhando de fora, não parece uma decisão sem sentido. Afinal, desde que a F1 adotou as unidades de potência híbridas em 2014, a Renault sempre esteve um passo atrás das demais, sem conseguir um motor tão eficiente mesmo fazendo mudanças radicais no projeto ao longo desse tempo.

Então, se é para gastar mais para ter um motor pior, por que não economizar e ganhar rendimento? Mas há dois 'poréns' importantes relacionados à mudança de regulamento da F1 em 2026, que foca justamente nos motores.

Atualmente, como o desenvolvimento das unidades de potência está congelado e não há tanta diferença entre um motor e outro (sim, o Renault fica para trás, mas não por muito), elas simplesmente não são um fator tão importante para o sucesso ou não de uma equipe. Com a mudança de 2026, voltam a ser e, quando isso ocorre, torna-se mais valioso fazer o seu próprio motor, para que a integração seja a melhor possível com o carro e também para garantir que o equipamento usado seja o melhor possível.

Não é a hora de se tornar cliente de motores

Há regras na F1 para coibir a prática de dar motores piores para os clientes do que para a equipe de fábrica, mas em um esporte decidido nos detalhes, sempre haverá diferenças milimétricas que vão acabar afetando o desempenho. É impossível garantir que todos os motores são iguais e, naturalmente, se uma unidade de potência gerar números 0.1% piores, ela vai para o cliente e não para o time de fábrica.

Então, o primeiro fator é: quando há uma mudança de regras pautada pelo motor, como é o caso, é melhor ser equipe de fábrica do que cliente. E é por isso que a Aston Martin foi atrás de um contrato exclusivo com a Honda e a Red Bull está fazendo seus próprios motores.

Ou seja, neste contexto, ser cliente distancia a Alpine ainda mais de chances de título. Mas esse não é o fator mais surpreendente desta história.

Projeto de 2026 da Renault é promissor

O projeto de 2026 da Renault é muito promissor, ou era. E como se sabe disso? O processo para se fazer um novo motor ou um novo carro passa por muitas discussões entre as fabricantes/equipes e a federação, então eles têm uma boa ideia de onde cada um está no projeto. E essas informações vão naturalmente se espalhando no paddock.

Continua após a publicidade

Ou seja, a Alpine não só está jogando fora o fato de ser equipe de fábrica, como também está colocando no lixo um projeto com potencial para fazer o time bicampeão em 2005 e 2006 voltar a lutar por vitórias.

E é por isso que essa história só faz sentido se for apenas o início do desligar das máquinas que mantêm o projeto de F1 vivo dentro da Renault.

A equipe Alpine - que é uma marca de alto rendimento da Renault - já teve 24% de suas ações vendidas para um grupo de investimento em 2023. Por diversas vezes de lá para cá, ouvimos garantias de que isso só visava aumentar o investimento na equipe, mas decisões como a de desistir de fabricar os próprios motores, dentro desse cenário atual, apontam para a tentativa de enxugar a máquina e arrumar a casa antes de uma venda total.

Honda viveu história semelhante nos últimos anos

Em termos técnicos, é uma decisão que se assemelha ao que aconteceu com a Honda em 2020. Depois de anos sofrendo com os motores, eles finalmente tinham acertado a mão, mas uma mudança de comando na montadora e, com isso, de estratégia, fez com que eles decidissem sair da categoria.

Essa decisão seria revogada depois, embora com um arranjo comercial mais favorável para os japoneses, que terão agora amplo apoio da petroleira Aramco quando "voltarem" como fornecedores da Aston Martin.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

Só para assinantes