Verstappen foi de 17º a 1º no Brasil: gênio ou sortudo com regra injusta?
"Não devia ter tido bandeira vermelha. Obviamente depois aconteceu um grande acidente que fez a corrida ser parada. Mas a vida é assim às vezes. Você faz uma aposta e dá certo. Não é talento, é apenas sorte." Foi assim que Lando Norris definiu um momento capital do GP de São Paulo e que facilitou o caminho para uma vitória incrível de Max Verstappen, saindo de 17º no grid para vencer pela primeira vez em mais de quatro meses.
Norris era segundo colocado e tinha passado a primeira parte inteira da corrida seguindo de perto George Russell. Os dois estavam com os pneus intermediários bem usados e suas equipes sabiam que havia chuva pela frente. E decidiram trocar seus pneus, perdendo posições para Esteban Ocon, Max Verstappen e Pierre Gasly.
Alguns pilotos neste momento da prova optavam pelo pneu de chuva, que dispersa ainda mais água que o intermediário, de tanta água que havia na pista.
A chuva apertou tanto que a direção de prova decidiu acionar o Safety Car. Ainda assim, esses três pilotos que não tinham parado ficaram na pista. Franco Colapinto bateu mesmo com o Safety Car na pista, e a bandeira vermelha foi acionada.
Com ela, vem a chance de trocar os pneus sem perder tempo algum. É isso a que Norris se refere. É uma regra que já gerou muita reclamação no passado. "Sem arrependimentos, apenas azar. É uma regra boba com a qual ninguém concorda. Mas você sempre concordará com isso quando for benéfico para você. Todos os pilotos disseram que não concordam com isso e querem que isso mude. Então é simplesmente lamentável. Mas é uma regra. Você ganha, você perde", disse o britânico.
Tem gente com pneu azul? É melhor ficar na pista
Mas não é tão simples assim. As equipes da F1 sabem (e esse é um conhecimento adquirido por estatísticas) que, quando tem piloto indo para o pneu de chuva, a probabilidade é grande que a corrida tenha bandeira vermelha. Porque isso significa que há muita água e, com ela, muito spray. E pouca visibilidade.
Então ficar na pista, como Verstappen fez, é o mais indicado. É matemática e não sorte. Porém, é uma matemática com seus riscos. Porque, se há tanta água assim na pista, o pior pneu de chuva possível é o intermediário usado. É aí que entra o talento.
E também as circunstâncias. Para as Alpine, valia a pena correr o risco. Com o segundo e terceiro lugares na corrida, eles conquistaram 33 pontos. Nas 20 primeiras etapas da temporada, tinham somado 26. Se tivessem parado antes da bandeira vermelha, jamais teriam conquistado esse resultado.
Para Verstappen havia mais risco em jogo. Ele tinha 44 pontos de vantagem no campeonato a essa altura, não podia arriscar tudo, mas certamente estava em posição de arriscar mais do que a McLaren. Some-se a isso a confiança da Red Bull com a habilidade de Verstappen na chuva e o carro apresentando ótimo ritmo.
Perguntado pelo UOL Esporte sobre essa decisão, o chefe de Norris, Andrea Stella, defendeu a McLaren. "Acho que sem a bandeira vermelha, teria sido bem difícil para quem não tinha trocado os pneus. Às vezes você parece brilhante porque se compromete com algo e é sempre mais fácil se comprometer quando você está atrás, e você parece um herói, estou aqui dando os parabéns a eles por suas decisões, mas ao mesmo tempo dou apoio às decisões que tomamos porque vieram com o total acordo dos pilotos, do pitwall e também para ter certeza de que continuaríamos na pista porque lutamos pelos campeonatos e precisávamos terminar as corridas."
A regra é injusta?
Essa é uma discussão mais longa. Os pilotos podem trocar pneus livremente sob regime de bandeira vermelha porque a FIA considera que pode ser perigoso relargar com pneus muito usados, levando em consideração que, se houve bandeira vermelha, a pista pode estar perigosa. Eles querem evitar que alguém se arrisque, como nesse caso do GP de São Paulo, relargando com pneu muito usado com muita chuva.
Mas é mais comum que essa regra crie uma situação mais artificial para a prova. Antes de Russell e Norris pararem, Verstappen já estava a 14s dos pilotos que dividiram a primeira fila do grid. Haveria mais Safety Cars, então é de se imaginar que ele passaria todo mundo de qualquer maneira. Então Norris tem uma ponta de razão. Mas não dá para dizer que Verstappen não foi só sortudo. Ele construiu sua própria sorte.
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