'Ingredientes de campeão da F1': Como brasileiro Bortoleto convenceu a Audi
O brasileiro Gabriel Bortoleto foi anunciado nesta quarta-feira (6) como piloto da Sauber no ano que vem e da Audi quando a equipe mudar de nome em 2026 e recebeu muitos elogios do chefe Mattia Binotto em duas coletivas online realizadas pela equipe, das quais o UOL Esporte participou. Nelas, ficaram claros alguns pontos sobre a contratação e os planos para o futuro, com o suíço deixando claro que vê o piloto de 20 anos como um potencial campeão do mundo de F1 no futuro.
"Não estamos procurando um jovem piloto que simplesmente fosse ótimo, e sim estávamos procurando alguém que possa se tornar um campeão no futuro e acho que ele tem potencial para isso", frisou Binotto, ex-chefe da Ferrari. "Agora, sabemos que ele não está pronto. Há muito a aprender, há muito a mostrar e provar, mas ele tem todo o potencial para fazer isso."
Como personalidade de Bortoleto convenceu a Audi
Nem Bortoleto está pronto para ser campeão da F1 agora, e nem a Audi, claro, e Binotto sabe disso. O piloto vem de um tipo de ascensão semelhante à de Charles Leclerc, George Russell e Oscar Piastri, com o título da F3 como estreante e a chance de conquistar também a F2 (ele é o líder do campeonato com duas corridas para o final) como novato. E a Audi está assumindo o controle da Sauber, que é a última colocada no campeonato.
Por isso, Binotto disse que a resiliência demonstrada por Bortoleto foi um ponto importante em sua contratação. Qualidade que ele demonstrou neste ano, reagindo após não ter um grande início de campeonato.
"O que ele conquistou, o que ele está conquistando, a maneira como eu acho que ele está pilotando, me impressionou", disse Binotto. "E mais do que isso, é sua capacidade de se desenvolver, melhorar e progredir durante a temporada em si. E eu acho que ele está fazendo isso também na temporada de F2. O início foi difícil, mas ele realmente foi capaz de não perder a meta, o que estava tentando alcançar. Ele progrediu e isso é o que mais conta."
Encontro cara a cara com Binotto foi decisivo para contratação
O chefe da Audi contou que uma visita de Bortoleto ao seu escritório o convenceu de que Gabriel seria realmente a melhor opção. "Claro que eu estava olhando os resultados, mas quando ele entrou no meu escritório, me convenci, simplesmente de olhar ele no olho. Será uma jornada difícil em alguns momentos e será importante ter resiliência. E fiquei impressionado com a mentalidade dele".
Na lembrança do piloto de 20 anos, a experiência foi um pouco diferente. "Ele me fez uma 3000 perguntas em um minuto para saber se eu tinha as respostas para todas elas. Mas foi um momento especial, senti uma conexão, ele me mostrou tudo sobre o projeto da Audi, o que ele queria para o time e para mim."
Isso aconteceu "há cerca de um mês", segundo Bortoleto. Apenas algumas semanas antes disso seu nome tinha começado a pipocar no mercado da F1, coincidindo com sua ascensão no campeonato da F2.
"O campeonato não começou tão bem e eu não tinha nenhuma conversa na F1, o plano seria mais fazer um segundo ano na F2. Mas depois aconteceu essa virada. Eu comecei a ganhar corridas e ir para o pódio, e o Mattia me abordou."
McLaren não foi um empecilho
Bortoleto vinha enfatizando, desde que seu nome começou a ser cogitado para uma vaga na F1, no final de agosto, que sua relação como piloto de desenvolvimento da McLaren não seria um empecilho para o futuro. E voltou a salientar isso durante o anúncio.
"Teve muita coisa na mídia sobre a McLaren me liberar ou não, mas foi muito mais calmo e pacífico do que isso", disse o piloto. Binotto, por sua vez, confirmou que a Audi não teve que pagar pela liberação de Bortoleto, que não tinha contrato com a McLaren para o ano que vem.
O brasileiro, contudo, segue sendo piloto McLaren no momento. O anúncio foi feito agora para que ele possa focar totalmente no campeonato da Fórmula 2, correndo ainda com as cores da McLaren, sem as especulações sobre o futuro.
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Quero receber"Assim que eu acabar o campeonato, terminar o trabalho que a gente começou na McLaren, não vou ser mais piloto deles."
É por isso que Bortoleto ainda não pode usar as cores da Sauber e da Audi e, nas fotos e na coletiva, aparece vestindo uma polo preta sem patrocinadores.
Quando Bortoleto soube que estaria na F1
Outro ponto esclarecido por Bortoleto foi que ele não sabia, quando foi ao GP de São Paulo, que estaria na F1 ano que vem como titular. Ele sabia que era um dos "vários concorrentes" para a vaga e que a decisão dependia basicamente de Binotto.
"Mattia me falou durante o final de semana do GP de São Paulo, eu não fui para a corrida sabendo que tinha sido o escolhido, como algumas pessoas falaram."
O suíço, por sua vez, citou o nome de Mick Schumacher como uma possibilidade que foi avaliada, além de citar as negociações com Valtteri Bottas, que chegou a ter as bases do contrato acertadas, mas que sempre soube que havia a possibilidade da aposta ser pela juventude.
Quais são os próximos passos
O campeonato da Fórmula 2 termina em Abu Dhabi, no mesmo dia do final da F1. Bortoleto tem apenas 4.5 pontos de vantagem para o segundo colocado no campeonato, então por isso McLaren e Audi entraram em acordo para que o anúncio fosse feito agora.
Na semana seguinte, será realizado um teste da Pirelli e para jovens pilotos ainda em Abu Dhabi e essa será a primeira vez que Bortoleto vai pilotar pela sua nova equipe. Até hoje, ele só fez um dia de testes, pela McLaren, em setembro.
Binotto confirmou ao UOL Esporte que a Sauber não tem, no momento, um programa de testes com carros antigos, algo que tem sido usado pelos outros estreantes - Kimi Antonelli, Oliver Bearman e Jack Doohan - para sua preparação. Mas o plano é mudar isso em breve.
"Estamos organizando um programa. E espero que já em janeiro possamos ter alguns testes para ele antes de começar com a nova temporada. De agora até o início da próxima temporada, tentaremos fazer o máximo que pudermos para ajudá-lo, apoiá-lo, para garantir que ele possa estar bem preparado para o início da temporada, mas esses testes só acontecerão em 2025, e não antes."
Gabriel também tem uma decisão pela frente, de mudar-se ou não de país. Ele mora há anos no norte da Itália, ou seja, não está longe da fábrica de Hinwil, nas proximidades de Zurique. Mas não afasta a possibilidade de passar a viver na Suíça para ficar mais perto do novo time, cuja sede da divisão de motores é no sul da Alemanha.
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