O tetra de um piloto completo em um carro que não era o melhor
Uns vão dizer que Lando Norris e a McLaren deram muito mole, ou que o tetracampeonato só veio pela vantagem construída nas cinco primeiras provas em que a Red Bull foi, sem dúvidas, dominante. Mas isso é ignorar o mérito de um piloto que foi campeão com duas corridas de antecipação mesmo não tendo o melhor carro em mais de dois terços do campeonato. Em algumas provas do segundo semestre, nem o segundo melhor carro Max Verstappen tinha. Mas o arsenal do holandês é extenso.
É classificação, ritmo de corrida, leitura de prova, compreensão do que mudar no carro mesmo durante o GP para reequilibrar o carro, posicionamento nas largadas, assertividade nas manobras, defesas que deixam a vida dos rivais bem complicada.
Por um lado, ficou claro que o conjunto Norris-McLaren ainda não está no mesmo nível de Verstappen e a Red Bull na maioria desses quesitos. Lando foi muito bem em ritmo de corrida neste ano e não costuma levar muito crédito por isso, e também esteve sempre muito mais pressionado, tendo entrado na briga, com a atualização da McLaren em Miami que mudou a história do campeonato, com 52 pontos a menos. E vivendo essa experiência de lutar pelo título pela primeira vez.
Por outro, o tetracampeonato é o título em que Verstappen se mostrou mais completo.
Ele não é imbatível, nenhum piloto é. O fator limitante na Fórmula 1 é sempre o carro e o trabalho do piloto é chegar de maneira mais consistente possível ao máximo que o carro tem para dar. E é aí que entram as performances definitivas de Verstappen nesta temporada: quando ele executou o fim de semana tão bem que venceu corridas ou conquistou resultados improváveis. A performance dos carros estava próxima, e ele sempre esteve mais próximo do 100% do que tinha em mãos.
Afinal, estamos falando da temporada mais competitiva dos últimos 12 anos na Fórmula 1. Foram sete vencedores diferentes, de quatro equipes; cinco caras distintas largando da pole position, dez pilotos diferentes chegando ao pódio. E um campeão antecipado, mesmo assim.
Não é uma conta absoluta, mas se levarmos em consideração qual piloto teve o melhor ritmo em cada uma das corridas, Verstappen somou 34 pontos simplesmente por executar melhor o final de semana que os outros.
Em Imola, na Holanda e em Singapura, todas pistas mais travadas, ele conseguiu isso com voltas de classificação muito boas. Depois, na corrida, se segurou onde estava.
No Canadá e na Grã-Bretanha, ficou mais evidente a tomada de decisões assertiva, tanto dele no cockpit, quanto da equipe Red Bull, que costuma ser bastante afiada em execução de corrida. Outro trunfo que ganhou os holofotes várias vezes no ano foi a comunicação muito eficiente entre Verstappen e o engenheiro Gianpiero Lambiase. GP, como é mais conhecido, ouviu muita reclamação, mas soube filtrar o que era frustração e o que era valioso para melhorar o desempenho do carro.
E teve outro lado também, a agressividade de Verstappen na disputa por posição. Dá para dizer que Max ganhou todas as disputas mais pesadas com Norris, até quando foi punido duas vezes na Cidade do México. Afinal, era uma corrida que Norris poderia muito bem ter vencido, não tivesse ficado preso atrás do rival.
Na Áustria, Verstappen pontuou mesmo colidindo com Norris, que saiu da corrida. Aos trancos e barrancos, foi uma vitória. Mas a mais clara delas foi nos Estados Unidos, quando ele usou o regulamento a seu favor, provocou uma punição a Norris e ficou na frente dele mesmo bem mais lento.
Isso sem falar no GP de São Paulo, a cereja do bolo. Em termos de ritmo, sua Red Bull estava muito bem, mas ele largou em 15º na prática após o caos da classificação. Em teoria, chegaria em terceiro ou quarto por conta da posição de largada, mas conseguiu vencer.
O campeonato de 2024 deixou claro, para quem ainda não tinha se dado conta e colocava os títulos de Verstappen apenas na conta da decisão judicializada de 2021 e do carro dominante dos anos seguintes, que estamos vendo um dos grandes da história.
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