Disputa do título de equipes de F1 está quente, mas o que ele vale na real?
Tem muito torcedor de Fórmula 1 que não dá muito valor para o campeonato de equipes, mas no paddock da categoria ele é levado muito a sério tanto porque é aquela disputa em que cada membro de cada time se sente envolvido, quanto porque é ele que define quem levar mais dinheiro na divisão do bolo dos direitos comerciais do campeonato.
A importância cresce ainda mais quando se tem duas equipes tradicionais que, há muito tempo, não sabem o que é conquistar um campeonato de construtores lutando pelo título deste ano. A McLaren não é campeã de times desde 1998. A Ferrari, desde 2008, quando disputou justamente com o time inglês. No ano anterior, a McLaren chegou na frente, mas foi punida por um caso de espionagem industrial e perdeu todos os pontos do campeonato.
As rivais chegam para as duas etapas decisivas separadas por 24 pontos, depois que a Ferrari descontou 12 no GP de Las Vegas. Na etapa deste final de semana, no Catar, a líder McLaren a chance de dar o troco, em uma pista que deve ser favorável aos carros laranjas. Ainda assim, são 96 pontos em jogo, sendo 52 no Catar, já que trata-se de um final de semana de sprint, e 44 na última corrida em Abu Dhabi. A Red Bull também está tecnicamente na briga, 53 pontos atrás, mas tem apenas pontuado significativamente com um piloto.
Para os membros das equipes, esse campeonato acaba sendo mais valorizado porque coloca os engenheiros que projetam o carro A x engenheiros do carro B, as equipes de pit stop frente a frente, os mecânicos, os estrategistas, os chefes. E a conquista também significa um bônus mais largo entrando na conta de cada um no final do ano.
Quanto ganha o campeão da F1
Principalmente no bolso das equipes. Não há números absolutos para isso porque todo o sistema de divisão do dinheiro arrecadado com marketing, direitos de TV e taxas pagas pelos promotores das provas é sigiloso. Sabe-se apenas por alto como tudo funciona.
De todo o lucro de uma temporada - e a F1 vem batendo recordes neste sentido, tendo passado dos 3 bilhões de dólares em 2023 - estima-se que metade entre na divisão das equipes. Digo "estima-se" porque haveria um limite máximo para repasse, que não é divulgado.
E há ainda pagamentos individuais, com acordos paralelos de times com a Liberty Media, que detém os direitos comerciais da F1. Ferrari, Mercedes e Red Bull são alguns dos times que recebem esses pagamentos.
Após todas essas deduções, são definidas as fatias de acordo com a posição no campeonato: os campeões recebem cerca de 14% do total e os últimos colocados, 6%.
Portanto, estima-se que a briga de McLaren e Ferrari seja de pouco menos de 10 milhões de dólares (130 milhões de dólares para o campeão e pouco mais de 120 milhões para o segundo). A diferença não é tão significativa para essas equipes, então a disputa entre eles é mesmo muito mais pelo prestígio do campeonato.
Do outro lado da tabela, é um dinheiro que faz mais diferença. A briga mais acirrada é pelo sexto lugar, que paga algo em torno de 95 milhões de dólares. Trata-se de pelo menos metade do orçamento de um time médio. São três equipes - Haas, Alpine e RB - divididas por quatro pontos, em uma briga que vale pouco menos de 20 milhões de dólares, ou mais de 10% do orçamento total do ano que vem.
O campeonato de construtores é parte da identidade da F1
Não há nenhuma outra categoria do automobilismo em que o campeonato de equipes é tão importante. Na verdade, ele nem existe na maioria delas. Essa disputa tem ligação direta com o que faz a Fórmula 1 ser considerada o topo do automobilismo: é um campeonato que existe para que cada equipe seja um construtor, ou seja, para que cada um faça o seu carro. Isso vai forçando uns aos outros a fazerem carros cada vez melhores, e esses carros muito avançados atraem os melhores pilotos.
Então dá para dizer que os pilotos sonham estar na F1 porque trata-se de um campeonato de construtores, já que é essa competição que vai fazer com que os limites sejam testados o tempo todo em termos de tecnologia e inovação.
Ou pelo menos essa é a visão romântica com a qual a F1 nasceu nos anos 1950 e foi crescendo ao longo das décadas. Principalmente nos últimos 25 anos, a categoria passou a adotar vários limites para segurar os gastos e garantir o bem estar financeiro do campeonato. Mas mesmo isso não tirou o caráter de inovação da categoria.
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Quero receberO lado ruim de ser campeão de equipes
Um desses limites está no uso de ferramentas de desenvolvimento aerodinâmico, e as posições no mundial de construtores vão ditar quem tem mais ou menos tempo. Vendo por essa ótica, não é bom terminar o campeonato entre os primeiros: quanto mais à frente no campeonato você termina, menos tempo de desenvolvimento tem até que as contas sejam refeitas no final de junho.
E ser campeão custa bem mais caro. O valor da inscrição para o campeonato seguinte depende do número de pontos conquistados. E o campeão paga ainda mais por cada ponto, em valores que são atualizados anualmente. Para correr neste ano, a Red Bull, que dominou o campeonato do ano passado, pagou mais de 7 milhões de dólares, mais que o dobro que a segunda colocada, a Mercedes.
Então dá para dizer que o segundo ou terceiro lugares são os piores possíveis: você não ganha tanto dinheiro, nem tanto prestígio quanto o campeão e ainda assim tem grandes restrições de desenvolvimento aerodinâmico. E, para os times do meio pelotão, mais vale mesmo é o dinheiro na mão.
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