Senna não queria ir para a Ferrari por causa de Berger? Não é bem assim
Fangio, Schumacher, Prost, Lauda e agora Lewis Hamilton. A Ferrari se firmou ao longo dos anos como uma passagem quase obrigatória para os grandes pilotos da Fórmula 1, mas nunca foi a casa de Ayrton Senna. E os relatos históricos dão conta de que, se ele não tivesse sofrido o acidente fatal no GP de San Marino de 1994, a história poderia ter sido bem diferente.
Na série da Netflix sobre sua carreira, o capítulo final, focado em sua última corrida, mostra um diálogo entre o tricampeão e Niki Lauda, que na época era conselheiro da equipe. "Se você decidir aceitar a oferta da Ferrari, seria uma honra para todos nós", diz o personagem do austríaco.
De fato, Senna tinha uma proposta na mesa. Em várias entrevistas, isso foi relatado por Luca di Montezemolo, que na época era presidente da Ferrari. Recentemente, o italiano disse que seu projeto era ter Senna apenas em 1996, porque ele não acreditava que a Ferrari tivesse a estrutura necessária naquele momento para contar com o melhor piloto do grid. Ele queria primeiro fortalecer a equipe e depois trazer o brasileiro.
Segundo Montezemolo, no entanto, Senna tinha mais pressa, por estar insatisfeito com a maneira como a Williams estava lidando com o começo ruim na temporada de 1994. O carro tinha sido projetado para funcionar com as ajudas eletrônicas que deram grande vantagem ao time nas temporadas de 1992 e 1993, mas que tinham sido banidas. E também era pensado para acomodar Alain Prost, mais baixo que Senna, que vinha sofrendo para se sentir confortável no cockpit, além de ter dificuldade para controlar um carro instável.
As reclamações de Senna naquela época eram tão incisivas que relatos da época dão conta de que o brasileiro convenceu seu engenheiro de pista a mandar a sua barra de direção para ser alterada sem o conhecimento do diretor técnico, Patrick Head, ou do dono da equipe, Frank Williams. Essa peça teria quebrado, fazendo com que Senna perdesse o controle da direção.
Então se sabia, e a série retrata, que Senna estava muito insatisfeito com o comportamento do carro. E, segundo Montezemolo, isso fez com que o brasileiro se reunisse com ele pouco antes de sua morte.
"Ele veio até a minha casa em Bolonha, antes do acidente de Ímola, e me disse que queria correr a todo custo conosco e deixar a Williams. Combinamos de nos vermos depois de Ímola, mas depois aconteceu o que aconteceu".
Nesta conversa, Montezemolo conta que Senna se comprometeu a verificar os detalhes de seu contrato com a Williams para entender se seria possível deixar a equipe antes do final de seu acordo.
Isso contradiz a versão mostrada na série de que Senna não queria ir para a Ferrari naquele momento para não atrapalhar a carreira de seu amigo e ex-companheiro de McLaren, Gerhard Berger. "Não posso fazer isso com Gerhard. Ele finalmente tem a chance de ser o primeiro piloto. Não posso torná-lo segundo piloto de novo", diz o personagem de Ayrton, que ouve de Lauda que "isso é besteira."
Senna, revelou Jean Todt, que já era chefe da equipe na época, tentou ir para a Ferrari antes mesmo de assinar com a Williams, acreditando que Prost continuaria no time inglês na temporada de 1994. A Williams sempre foi sua primeira opção, mas ele sabia que Prost o vetaria e estava buscando opções. Nessa época, Berger já tinha retornado à Scuderia.
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