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Coluna do PVC

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Criação da Liga ainda esbarra em ganhar mais dinheiro x diminuir o abismo

Reunião da Libra na última sexta-feira - Marcos Galvão/LIBRA
Reunião da Libra na última sexta-feira Imagem: Marcos Galvão/LIBRA

Colunista do UOL

31/05/2023 14h54

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A decisão da Libra de estender a garantia mínima de Flamengo e Corinthians a todos os clubes serviu para dar a impressão de que todos vão ganhar mais e tirar do foco o abismo de clubes gigantes como Atlético, Cruzeiro, Vasco, Botafogo, Grêmio, Fluminense e Internacional para o valor recebido pelos dois times das duas maiores torcidas do Brasil.

Uma tabela que corre informalmente entre dirigentes dos dois blocos, Libra e Liga Forte, traz projeção de que a distância para os dois que mais arrecadam ficará maior mesmo se os contratos de TV produzirem um salto, dos atuais R$ 2,2 bilhões para R$ 3,5 bilhões no total dos contratos.

É o que explica o distanciamento entre Leila Pereira e Rodolfo Landim, entre Palmeiras e Flamengo, nas reuniões da Libra: "Vamos fazer a Liga de 39 e deixar o Flamengo negociar sozinho", foi uma das frases ouvidas por dirigentes da Libra.

O exemplo do Palmeiras serve para todos os demais. No ano passado, o clube presidido por Leila Pereira arrecadou R$ 153 milhões. Apesar de ser campeão e o Flamengo terminar em quinto lugar, a arrecadação no Parque Antarctica foi R$ 103 milhões menor do que os R$ 256 milhões arrecadados na Gávea.

Com a garantia mínima estendida para todos os grupos, a projeção é de que o Palmeiras passe a arrecadar R$ 175 milhões. Sem garantia mínima, arrecadaria R$ 160 milhões. Qual o problema, então, em aceitar a cláusula do mínimo garantido, se vai ganhar mais?

Simples. Ao arrecadar R$ 175 milhões, o abismo para o Flamengo subiria para R$ 125 milhões, 25% a mais do que a distância do ano passado. Sem o mínimo garantido, o Palmeiras ganharia R$ 160 milhões. A distância para o topo seria de R$ 44 milhões e não de R$ 125 milhões.

A conta vale para todos os grandes clubes do Brasil, com ligeira diferença nos casos de São Paulo e Corinthians. No ano passado, os corintianos ganharam R$ 51 milhões a menos do que o Flamengo e passarão a receber R$ 49 milhões a menos do que o rival da zona sul carioca com a cláusula.

Sem garantia mínima, o distanciamento cai para R$ 25 milhões. O São Paulo ganhou R$ 120 milhões no ano passado, ou R$ 133 milhões a menos do que o rubro-negro. Sem a cláusula do mínimo garantido, a distância cai para R$ 43 milhões.

Esta pegadinha de ganhar mais e aumentar o abismo já existiu no debate entre 2010 e 2011, período em que se discutiu a concorrência com envelope fechado, que poderia dar vantagem à Record, no contrato com a Globo. O Botafogo trocou de lado em cima da hora, pela vantagem de saltar de R$ 16 milhões de arrecadação anual para R$ 45 milhões de receita televisiva. Só que a distância para Flamengo e Corinthians, que arrecadavam mais, saltou de R$ 9 milhões para R$ 45 milhões.

"Eu preciso pensar em quanto eu ganho a mais, não em quanto meu concorrente recebe", dizia o presidente Maurício Assumpção, do Botafogo. Na prática, o Botafogo teve muito menos chance de concorrer do que já tinha.

A garantia mínima foi inicialmente composta para viabilizar o pay per view. No ano passado, dos R$ 256 milhões do contrato de TV do Flamengo, aproximadamente R$ 170 milhões vieram dessa plataforma. No caso do Corinthians, do total de R$ 202 milhões de televisão, em torno de R$ 120 milhões vieram do pay per view. Ocorre que esta plataforma terá seu contrato encerrado no ano que vem e a Liga nascerá em 2025, se nascer.

A grande pergunta é se os dirigentes de clube preferem embolsar mais dinheiro ou ter mais poder de compra. É o debate entre receber um volume maior x aumentar o abismo. Importante frisar que esta não é a única receita. Flamengo e Corinthians vão ganhar mais por terem mais torcidas, também em contratos de patrocínio, por exemplo.

Para entender a tabela abaixo, aparecem pela ordem quanto cada clube ganhou em 2022, quanto ganhará com a garantia mínima e sem a garantia mínima.

Entre parênteses, quanto cada um ganha a menos do que quem está no topo. Projeção a partir de contratos de TV que alcancem somados os R$ 3,5 bilhões:

FLAMENGO - 256 milhões 275 milhões 203 milhões

CORINTHIANS 202 milhões (-51) 226 milhões (-49) 178 milhões (-25)

PALMEIRAS 153 milhões (-100) 150 milhões (-125) 160 milhões (-44)

SÃO PAULO 133 milhões (-133) 151 milhões (-124) 160 milhões (-43)

ATLÉTICO 112 milhões (-149) 123 milhões (-152 130 milhões (-73)

FLUMINENSE - 133 milhões (-133) 139 milhões (-146) 137 milhões (-66)

INTER 125 milhões (-131) 137 milhões (-138) 146 milhões (-57)

BOTAFOGO 92 milhões (-161) 99 milhões (-176) 105 milhões (-98)

SANTOS - 89 milhões (-167) 107 milhões (-168) 113 milhões (-90)