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Coluna do PVC

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

O Botafogo e todos os lados do caso Luis Castro

Vaias e notas falsas: o protesto da torcida do Botafogo contra Luís Castro - Reuters/ AMANDA PEROBELLI
Vaias e notas falsas: o protesto da torcida do Botafogo contra Luís Castro Imagem: Reuters/ AMANDA PEROBELLI

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Luis Castro não tinha mais nada a dizer na entrevista coletiva depois do empate do Botafogo contra o Magallanes.

Admitiu quando chegou a proposta, disse que seguia pensando só no clube, avisou John Textor, esperou o documento oficial, agendou nova reunião para sexta-feira, depois do compromisso que possuía pela Copa Sul-Americana.

Mais explícito, só se detalhasse publicamente cada passo, entre a saída de seu quarto até chegar ao vestiário do Nílton Santos.

A tendência é Luis Castro aceitar o convite do Al Nassr, especialmente por trabalhar com Cristiano Ronaldo. A decisão não está 100% tomada. Como aqui se escreveu ontem, há o caso do Reading, que julgava já o ter contratado e recebeu o não no último instante. Mesmo assim, está claro que a hipótese mais óbvia é ir. Este blog só considerará assunto encerrado, quando for assinada a rescisão.

Não é a primeira nem a última vez que isto acontece. Zagallo deixou o Botafogo, em dezembro de 1978, com destino ao Al Hilal, da Arábia Saudita. A diferença é que o Campeonato Carioca havia terminado. Em outubro de 1989, menos de quatro meses depois de encerrar o jejum de 21 anos do alvinegro, em meio ao Campeonato Brasileiro, Valdir Espinosa trocou General Severiano pela Gávea. Rompeu contrato com o Botafogo e foi para o Flamengo.

A torcida ficou furiosa, a repercussão foi gigantesca. Em setembro de 1998, Espinosa voltou ao Bota.

A fúria com a chance de Castro pagar a multa de rescisão e ir para o Al Nassr é desproporcional. Especialmente porque o Botafogo o contratou pagando a multa ao Al Duhail, do Catar. Um ano e meio atrás, a situação era idêntica, só que Luis Castro rompia com o Al Duhail para vir ao Rio de Janeiro. Nesse caso, ninguém reclamou.

Há casos diferentes, vistos como iguais, quando se tenta dizer alguém puxa a sardinha para um clube em vez de outro. Vítor Pereira tinha todo o direito de mudar do Corinthians para o Flamengo. A diferença é que mentiu sobre a sogra. Luis Castro, não. Em 2002, Vanderlei Luxemburgo deixou o Palmeiras e foi para o Cruzeiro. Era seu direito. Palmeirenses reclamam do rebaixamento depois de sua saída. Não foi por causa disso. Eduardo Coudet errou, não por deixar o Atlético, mas pela forma como fez isso.

Todos têm todo o direito de discordar. Ser democrático é saber lidar com o contraditório. Com argumentos.

A grande contradição é ir para a Arábia Saudita, país que desrespeita os direitos das mulheres, dos homossexuais, os direitos humanos de modo geral. Ele já trabalhou no Catar, mas estará a serviço da limpeza da imagem do governo saudita, como esteve antes no Oriente Médio. Dizer que ele vai por dinheiro é menos contraditório, diante do telefonema de Cristiano Ronaldo.

É preciso disciplinar as relações técnico-clubes, sem dúvida. Mas os dirigentes são mais culpados do que os técnicos pela epidemia. O mais forte leva vantagem desde sempre. O Bayern contratou Ottmar Hitzfeld do Borussia Dortmund, o Milan tira Arrigo Sacchi do Parma, casos em fim de compromisso. A seleção brasileira só tira Carlo Ancelotti no final do contrato — mas bem que tentou romper.

Em 1986, o São Paulo demitiu Cilinho, que se transferiu para a Ponte Preta. Menos de um ano depois, Pepe caiu no Morumbi e o São Paulo recontratou Cilinho, o treinador que montou o timaço dos Menudos. A torcida da Ponte ficou revoltada, especialmente porque o Tricolor foi campeão paulista e a Ponte rebaixada.

Isto aconteceu há 36 anos. E nem era a primeira vez.

Existe uma epidemia de trocas de treinadores no Brasil. Os técnicos, muitas vezes, acrescentam casos a esta doença, causada pelos dirigentes e imprensa, não pelos treinadores. Contando a entrada de Jorge Sampaoli no Flamengo na segunda rodada, houve doze mudanças de treinadores nas doze primeiras rodadas do Brasileirão. Nove foram causadas pelos clubes. Os outros três, Cuca, Eduardo Coudet e Luiz Felipe Scolari, pediram demissão.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do que foi informado, Valdir Espinosa retornou ao Botafogo em 1998. O erro já foi corrigido.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL