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Coluna do PVC

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Autoridades criam museu de grandes novidades ao tentar combater violência

Esquina da Rua Caraíbas com a Rua Venâncio Aires, próximo ao Allianz Parque, tinha resquício de garrafas de vidro - Flavio Latif/UOL
Esquina da Rua Caraíbas com a Rua Venâncio Aires, próximo ao Allianz Parque, tinha resquício de garrafas de vidro Imagem: Flavio Latif/UOL

Colunista do UOL

13/07/2023 08h58

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Os comerciantes dos arredores do Allianz Parque foram dormir com a informação de que a subprefeitura da Lapa revogaria o decreto que proíbe vendas de bebicas alcoolicas nos arredores do estádio, em dias de jogos — o dia todo.

Difícil saber se foi informação desencontrada, depois de se ter afirmado que o suspeito confessou o crime e depois ter sido libertado por negar a confissão. No início da manhã, o que se sabe é que não podem vender o dia todo.

Diante de tudo o que está acontecendo, pobres comerciantes locais que pagam pela incompetência das autoridades. Se o subprefeito entende que as bebidas alcoolicas podem ser responsáveis pela morte de Gabriela Anelli, tinha de ter proibido antes. Se não acha, por que castiga os comerciantes em vez de solucionar o problema dos ambulantes?

Quem vende bebida alcoolica em garrafas na porta do estádio é ambulante. A prefeitura vai tirá-los de lá?

A simulação de competência recupera medidas ineficazes aplicadas na segunda metade da década de 1990. Na época, todos os bares e restaurantes em torno de todos os estádios do estado de São Paulo foram proibidos de comercializar bebicas alcoolicas em dias de jogos. Os ambulantes vendiam.

Os torcedores unirmorizados sentavam-se nos mesmos lugares de antes, apenas sem camisa que identificassem suas facções. Em 1996, a pedido da revista Placar, filiei-me a uma destas torcidas, para mostrar que, diferentemente do que diziam as autoridades, as uniformizadas não estavam extintas e, mais, seguiam arrecadando e arregimentando novos sócios pagantes.

Ninguém quer que o suspeito fique preso se for inocente. A narrativa agora é quem grita mais alto. Tem bate-boca público entre formadores de opinião, promotor e juiz acusando delegado, promotor defendendo a inocência do suspeito, o suspeito libertado e o pequeno comerciante proibido de comercializar mercadorias, apesar de pagar impostos para abrir seu comércio.

Havia duas medidas para impedir a morte de Gabriela: 1. fazer um bloqueio para que torcedores com acesso até o portão C não se aproximassem do portão de torcedores visitantes, o D Haveria uma área livre de 500 metros, sem contato entre os dois grupos; 2. proibir ambulantes de venderem bebidas em garrafas de vidro.

Isto impediria o crime de sábado.

Resolver o problema da violência exige outras medidas. Um grande pacto do futebol, que envolva Ministério da Justiça, do Esporte e governo federal, para criar o mesmo efeito que a Lei Seca produziu no Rio de Janeiro. Quem produzir ou participar de briga tem de saber que não vai escapar de ser punido. Assim como motorista sabe que se beber e dirigir será apanhado pela Lei Seca.

Todo o resto é simulação de competência e repetições de medidas inócuas já tomadas na década de 1990.