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Coluna do PVC

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Palmeiras não sabe qual é o papel da imprensa para a Democracia

Anderson Barros, diretor de futebol do Palmeiras, em entrevista coletiva após a eliminação na Copa do Brasil - Reprodução/YouTube
Anderson Barros, diretor de futebol do Palmeiras, em entrevista coletiva após a eliminação na Copa do Brasil Imagem: Reprodução/YouTube

Colunista do UOL

14/07/2023 04h01

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Mais de uma hora depois da derrota para o São Paulo, o diretor-executivo do Palmeiras, Ânderson Barros, compareceu à sala de entrevistas coletivas, para dar declarações à imprensa.

Afirmou que a posição do clube era de não dar entrevista, mas como houve a derrota, mudou sua postura. No final da conversa, respondeu pergunta do repórter Vinicius Nicoletti, da ESPN, sobre a postura do clube, de não falar com sua torcida, por meio dos jornalistas.

Ânderson respondeu que o Palmeiras não deixa de falar com sua torcida, porque tem seus canais competentes para isso.

Ora, então por que foi à sala de coletiva? Se o clube pode dar satisfação à torcida na vitória, por que precisa falar com a imprensa na derrota?

A contradição é enorme. Mais do que ela, só a falta de cuidado com a democracia.

Não se trata apenas de dar satisfação a seu povo, mas de dar chance ao contraditório. A imprensa é um pilar do sistema democrático.

Comunicar-se com sua comunidade apenas por meio de seus canais e redes sociais impede e deixa uma série de perguntas sem respostas.

Por exemplo:

1. O time está cansado?

2. Por que Abel Ferreira preferiu Richard Rios a Gabriel Menino e Luan a Murilo?

3. Abel Ferreira está sentindo falta de suplentes capazes de manter ou melhorar o nível no segundo tempo e descansar os mais desgastados?

4. Qual o volante procurado pelo Palmeiras no mercado?

5. Por que o São Paulo tomou conta do jogo no segundo tempo?

6. Na opinião de Abel Ferreira, qual a razão de o São Paulo ser o rival que mais venceu o Palmeiras desde sua chegada ao Brasil?

7. Por que Abel decidiu liberar Giovani para o futebol do Catar?

8. O que achou da anulação do gol de Calleri?

9. Por que Endrick foi escolhido para substituir Artur e por que mudou Rony de função?

10. Ficar em silêncio é melhor do que mandar emails para a CBF?

Talvez o Palmeiras não saiba, mas Abel Ferreira sabe quem foi Antonio de Oliveira Salazar.

Sabe quanto Portugal perdeu em inteligência e quanto ganhou a partir da abertura democrática.

Como as dez questões listadas, poderia haver cem, porque as conversas com jornalistas dão vez ao contraditório.

E sem contraditório, não há democracia.

Com todo o respeito que Ânderson Barros merece, nove títulos conquistados em três anos e meio de Palmeiras.... Um cavalheiro.

Falar com a torcida é dar chance de fazê-la refletir e ouvir perguntas que, talvez, nem a torcida saiba que podem ser feitas.

Além de tudo isso, comparecer à sala de entrevistas coletivas representa cumprir o que está no Regulamento Geral das Competições.

Cabe multa a cada ausência do clube ao compromisso assumido na assinatura do contrato com emissoras de TV.

Quando o Palmeiras diz que respeita o trabalho de todos os jornalistas, como afirmou Leila Pereira no Morumbi, é importante frisar: os jornalistas sabem que não estão tendo sua função respeitada.

Se o Palmeiras entende que pode se comunicar com sua comunidade por meio de suas redes sociais e seus canais competentes, o clube entende que a imprensa serve para quê? Só para pagar R$ 156 milhões por contratos de televisão?