Alemanha em crise ajuda a entender futebol de seleções
A suposta fronteira da seleção brasileira, entre estar dentro ou fora da elite do futebol mundial, já descrita aqui, parece relativa quando se obsrva as situações de outras grandes seleções do planeta. Por quatro anos, a Alemanha foi o exemplo de como revigorar um time tradicional. Até livro foi lançado e comentado: "Das Reboot!" Explicava como os alemães deram reset em seu estilo.
Nove anos depois dos 7 x 1, olhar para o Brasil fora das semifinais, a Alemanha fora das oitavas de final, a Itália ausente de duas Copas ajuda a compreender a nova ordem.
Nas duas últimas Copas do Mundo, os semifinalistas foram França, Argentina, Croácia, Inglaterra, Bélgica e Marrocos. Argentinos e franceses chegaram em duas das últimas três finais. Significa que todos os demais gigantes estão em crise e ameaçados de ficar fora da elite.
A Itália estreou seu novo treinador, Luciano Spaletti, depois da saída de Roberto Mancini para a Arábia Saudita. A Alemanha entra na onda dos treinadores interinos, com Rudi Völler, seu diretor, assumindo o cargo para um único e último jogo, segundo ele mesmo. O amistoso contra a França, nesta terça-feira, em Dortmund.
O Brasil sempre tem medo de usar como parâmetro as partidas de eliminatórias. Faz sentido. Pense agora na Alemanha, de oito vitórias consecutivas nos oito primeiros jogos sob o comando de Hansi Flick, 33 gols marcados e 2 sofridos, contra Liechenstein, Armênia, Islândia, Romênia, Macedônia do Norte, Liechtenstein outra vez, Armênia de novo e Israel.
Então, vieram três vitórias, sete empates e seis derrotas em 16 partidas trágicas. Flick foi demitido depois de sofrer goleada por 4 x 1 para o Japão, o mesmo time que o eliminou na fase de grupos da Copa do Mundo.
Só Erich Ribbeck, em 2000, ficou menos partidas do que Flick: 24 x 25. Curiosamente, a crise com a saída de Ribbeck foi solucionada por 53 partidas sob o comando de Rudi Völler, justamente o substituto interinamente na tarde desta terça, em Dortmund.
Flick seguia a lógica do sucesso de uma seleção de apenas onze técnicos em 100 anos. Foi assistente de Joachim Löw, como Sepp Herberger foi de Otto Nerz, Helmut Schoen de Herberger, Jupp Derwall de Schoen, Beckenbauer jogou sob Schoen, seu assistente Berti Vogts virou treinador e só se roeu este ciclo com Ribbeck, fazão do fracasso.
Depois Rudi Völler e Jurgen Klinsmann que trabalharam sob o comando de Beckenbauer, Joachim Löw, assistente de Klinsmann e Flick, seu auxiliar, antes de ser campeão da Champions League pelo Bayern.
Tinha uma lógica encadeada.
Por que fracassa agora? Löw caiu num 6 x 0 para a Espanha, embora tenha sobrevivido no cargo até o final da Eurocopa.
Uma das causas não está nos erros de alemães, italianos e brasileiros, que precisam encontrar soluções. Um dos motivos está no equilíbrio gerado pelo conhecimento espalhado pelas pequenas seleções. Se Hakimi nasceu na Espanha, joga pelo Paris Saint-Germain, fez a base no Real Madrid e joga pelo Marrocos, natural que técnica, tática e estratégia espalhem-se.
Acontece também com a Croácia de Modric, a Bélgica de De Bruyne... Gustavo Gómez leva para o Paraguai o que aprendeu no Milan e no Palmeiras. De todos os campeões mundiais, quem parece ter mais evoluído na formação de novas gerações e métodos é o Uruguai. Atenção ao time de Marcelo Bielsa. Não apenas por seu técnico, mas pela geração de Pellistri, Darwin Nuñez, Ugarte e De la Cruz.
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