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Mano Brown conta o que disse ao elenco do Santos

Os jogadores do Santos queriam que o jogo começasse naquela hora. No mesmo instante em que Mano Brown saiu do auditório do Centro de Treinamento Rei Pelé. Não tinha um jogador que não ficou arrepiado com a presença do artista-herói nascido no Capão Redondo, extremo sul da cidade de São Paulo, crescido torcedor do Santos.

Na manhã de sábado, Mano Brown concedeu o privilégio de trocar uma ideia, depois de ter feito exatamente isto com os jogadores do time que ama. Nem sabia o tamanho da repercussão de sua conversa no CT: "Ganhamos". Disso ele sabia. O que ninguém lhe disse foi como sua palestra tocou o elenco santista.

Os jogadores brasileiros são artistas com formação de operário. Quando se encontram com um herói, que nasceu na periferia, correu o risco de ser bandido e se tornou artista que canta como a vida é dura, um craque do Santos sente como se aquela fosse a história da sua vida.

"Aí, dona Ana, sem palavras, a senhora é uma rainha!"

O verso composto para sua mãe vale para os craques que não conheceram o pai, exatamente como Mano.

"Eu só disse para eles que podiam perder de dez para o Inter, em vez de sete. Mas tinha de ser trocando."

Não é preciso esforço para compreender que trocando quer dizer lutando, na gíria de quem passou a vida "Sobrevivendo no inferno", título do álbum dos Racionais MC's de 1997.

Não é preciso ter acesso à escola para ser um gênio. Mano Brown sintetiza a diferença entre inteligência e cultura.

Mano Menezes está do outro lado do clássico.

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Mudou os treinos e conquistou o respeito dos jogadores.

Não pelo carisma, como seu irmão de apelido.

Pelo trabalho.

Por mais que os resultados tornem injusta a demissão de Vanderlei Luxemburgo, os relatos de dentro do Centro de Treinamento Joaquim Grava são de justiça. Vanderlei Luxemburgo chegou atrasado a treinos e palestras.

Mano é diferente.

Não é brother, nem chefe. É líder! Impõe respeito pela qualidade do que apresenta. Não acredita em milagre, só em trabalho, dedicação e diálogo.

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Depois de substituir Renato Augusto por Matías Rojas, em Mato Grosso, chamou-o e conversou sobre o que percebia no campo para ajudar nas alterações seguintes. Dez minutos depois, uma cobrança de falta de Rojas resultou o gol de Romero, após cabeceio de Gil.

Mano Brown terá hoje a alma no Capão Redondo e os olhos em Itaquera. Pode ser difícil para quem não é de São Paulo compreender a proximidade dos dois extremos do município, apesar dos 42 quilômetros de distância, duas horas e dois minutos de ônibus, uma hora e meia de metrô.

"Quando eu era criança, palmeirense e são-paulino era o menino de olho azul ou japonês. Corintiano e santista era diferente", lembra Mano Brown. "O primeiro jogo em que fui foi Palmeiras x Portuguesa, tinha Enéas e tudo. No segundo, eu estava com a camisa do Santos na torcida do Palmeiras. Quando saiu o gol do Juary, os caras me arrancaram a camisa. Lembro da torcida do Palmeiras violenta."

Fala de um Santos 1 x 2 Palmeiras, em 1979, quando tinha nove anos. Juary marcou aos 8 segundos, o Palmeiras venceu de virada. Juary, centroavante rápido de gol fácil, costumava contar que o técnico Chico Formiga ensaiou a jogada. Disse para Aílton Lira lançar mirando a cabeça do volante Ivo, porque ele se abaixaria para ajeitar o meião.

O passe alcançou Nílton Batata e o cruzamento deixou Juary frente a frente com o gol.

Mano Brown de frente com o perigo.

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Perdeu a camisa. Perdeu trocando

Hoje, ele só faz uma exigência: "Cair não pode, não!"

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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