Crises da seleção se repetem em mudanças de gerações
Vinicius Junior e Rodrygo estavam no grupo de 26 jogadores da Copa do Mundo do Qatar, mas a lesão de Neymar apressa a mudança de status de ambos. Em vez de coadjuvantes, passam a ser símbolos de um novo time, que ainda não existe.
Uma parte do problema, que leva o Brasil a perder duas partidas seguidas de eliminatórias pela primeira vez na história, é o estilo de jogo de Fernando Diniz. Já é consensual a ideia de que há dificuldade para fazer craques acostumados a sistemas posicionais adaptarem-se todos os meses a uma maneira inversa de jogar, sem lugar fixo, quando a seleção tem a bola.
Mas não é só isso.
Todas as grandes crises da seleção aconteceram em mudanças de gerações, transições com saídas ou lesões de grandes jogadores e rupturas de uma equipe para outra. Há alguns exemplos:
COPA DO MUNDO DE 1966
Fala-se sempre sobre a bagunça dos 47 convocados para a Inglaterra, mas a Copa do Chile foi vencida e houve 42 convocados na fase de preparação. Aquela seleção tinha uma mistura de veteranos das conquistas de 1958 e 1962, como Garrincha, Gilmar, Djalma Santos, Zito e Belini, Altair e Orlando Peçanha, com jovens que fariam sucesso no futuro próximo, como Jairzinho, Tostão e Edu. No meio deles, Pelé apanhando e machucado. A transição levou à eliminação na fase de grupos, contra Portugal e Hungria.
COPA DO MUNDO DE 1974
O técnico era Zagallo, o mesmo do tri em 1970, e o grupo tinha oito campeões no México: Rivellino, Jairzinho, Leão, Zé Maria, Paulo Cezar Caju, Piazza, Edu e Marco Antônio. Sem Pelé, mudaram os papéis. Esperava-se mais protagonismo de Jairzinho e Paulo Cezar.
ELIMINATÓRIAS DE 1985
Evaristo de Macedo foi escolhido para dirigir a seleção e iniciou a preparação com grupo de jovens jogadores, enquanto os veteranos de 1982, ainda no final da temporada italiana, não retornavam. Enquanto aguardava Zico, Sócrates, Falcão, Toninho Cerezo e Júnior, Evaristo fez seis amistosos contando com jovens talentosos, como Bebeto, Casagrande, Branco, Geovani, Alemão. Bebeto estreou na derrota por 1 x 0 para o Peru, em Brasília, Casagrande numa vitória contra a Colômbia, no Mineirão. No jogo de volta, em Bogotá, a seleção foi derrotada pela colombiana pela primeira vez na história.
COPAS AMÉRICAS DE 1987 E 1989
Concluída a primeira parte da despedida da geração de Zico, na Copa do Mundo de 1986, Carlos Alberto Silva reiniciou o trabalho de renovação. Raí, Romário e Dunga estrearam em excursão à Europa, em 1987. Empatou com a Inglaterra, em Wembley, venceu a Escócia, em Glasgow, chegou à Copa América confiante e levou 4 x 0 do Chile. Dois anos depois, em nova excursão à Europa, nova goleada sofrida por 4 x 0, desta vez para a Dinamarca. A nova geração disputou mal a Copa do Mundo da Itália, em 1990. Boa parte dos estreantes com Carlos Alberto Silva e Evaristo levantou a taça em 1994.
ELIMINATÓRIAS DE 2002
Era justo dizer que o time vinha em sequência, sem rupturas, com Romário passando o cetro para Ronaldo e com a equipe campeã de 1994 chegando à finalíssima de 1998. Então, veio a lesão de Ronaldo e o Brasil passou por apuros. Testou nove camisas 9, além de Rivaldo improvisado na função. Teve três técnicos entre 1998 e 2002, sem contar Candinho, interino em duas partidas. Ronaldo estava machucado. O Brasil perdeu seis vezes nas eliminatórias da Copa da Ásia e foi eliminado por Honduras, caindo por 2 x 0 nas quartas de final da Copa América de 2001. O diagnóstico era cruel: o Brasil não revelava mais craques como antes. Um ano depois, a seleção ganhou a Copa do Mundo com Cafu, Roberto Carlos, Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo e Ronaldo.
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Quero receberHá muitas razões para o 7 x 1. Erros da comissão técnica na escalação, confusão na preparação, Granja Comary recebendo convidados inoportunos. Também havia o fato de o ataque da seleção ter contado com as desistências de jogar em alto nível de Adriano e Ronaldinho Gaúcho. A isso, somou-se a dificuldade física de Kaká. O resultado foi um time com uma referência ofensiva de 22 anos: Neymar. Não há registro de seleção ganhar Copa do Mundo com um protagonista solitário de 22 anos. Nem Pelé. Aos 17 anos, na Suécia, Pelé tinha a companhia e liderança de Didi, eleito o melhor jogador do Mundial, aos 29.
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