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Carlos Monzón, Robinho, Tyson. Atletas que foram de ídolos a criminosos

Uma geração apaixonada pelo boxe ficou chocada no fim da década de 1980 com a notícia da prisão de Carlos Monzón. Para apaixonados pelo pugilismo, o campeão mundial dos médios foi um ídolo, apesar de inúmeros casos de violência.

No pior deles, foi acusado de atirar sua esposa, a atriz uruguaia Alicia Muñiz, pela janela de um hotel em Mar del Plata. Preso e condenado a onze anos de cadeia pelo assassinato, Monzón morreu seis anos depois, retornando de carro para a prisão após um final de semana livre para ver sua família.

O que é um ídolo? Nem todo mundo tem os seus. É possível admirar alguém sem ter idolatria, sem que se veja o tal personagem como referência de vida.

Robinho não pode mais ser visto como referência de nada, como Carlos Monzón deixou de ser, mas é um pouco confuso, para quem apenas admira grandes esportivas compreender como alguém pode ser idolatrado apenas por saber chutar uma bola, dar um soco ou dirigir um carro de corrida. Ídolo deveria ser Mahatma Gandhi, Nelson Mandela, ícones defensores da paz mundial.

Mas... É possível admirar profundamente a carreira de Pelé e compreender que, como ser humano, cometeu erros graves? Ter profundo respeito por um dirigente mundial e descobri-lo capaz de cometer casos de corrupção?

Os casos de Robinho, Daniel Alves e Mike Tyson acabam com qualquer possibilidade de serem admirados. O ex-goleiro Bruno, também.

Cometeram crimes bárbaros, foram para a prisão por estupro, destruíram suas próprias vidas, por terem, antes, terminado com a de outras pessoas com crimes hediondos.

Carlos Monzón morreu enquanto cumpria pena de onze anos por feminicídio.

Há casos muito menos drásticos.

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Almir Pernambuquinho era um jogador violento, foi assassinado em Copacabana, numa briga de bar, mas por ter defendido uma vítima de homofobia. Allen Iverson passou quatro meses na prisão, em Virginia, acusado por participação em uma briga em um boliche e de ter golpeado uma mulher com uma cadeira. Só ele e seus amigos negros foram presos. George Best foi encarcerado por dirigir embriagado, Maradona foi presa por porte de drogas em Buenos Aires, em 1991.

Casos totalmente diferente dos acima citados, não há nem discussão.

Mas Maradona e George Best permitem o debate sobre um ídolo. Foram referências? Por quê? Apenas por brilhar no domínio do jogo de futebol?

Robinho, Daniel Alves e Mike Tyson geram outra pergunta. O crime entra na vida de esportistas ricos e famosos por terem saído da pobreza muito rapidamente e sem educação formal? Por que passaram a julgar ter poder, serem impunes, terem todas as possibilidades? Ou porque a cultura do estupro se espalha de modo a atingir todos os homens?

Certamente algumas destas causas explicam alguns dos casos de esportistas que destruíram a vida de outras pessoas e, por consequência, as suas próprias. Mas muitos outros passaram pelas mesmas situações e não passaram nem perto de se tornarem criminosos, saíram da condição de ídolos de alguns, para símbolos do que não se deve fazer.

Robinho e Daniel Alves não são os primeiros.

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Seus exemplos têm de ser transmitidos com a esperança, vã, de que sejam os últimos.

É por isso que a CBF, o Milan, o Barcelona, têm obrigação de falar a respeito. Pronunciar-se é também tentar educar outras gerações e não caírem nas mesmas armadilhas e não destruírem a vida de mais ninguém. Nem as suas próprias.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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