PVC de domingo - O Brasileirão sobrevive ao descrédito que ele mesmo criou
O programa De Primeira, do UOL, perguntou durante a semana se você acredita em John Textor ou na idoneidade do Campeonato Brasileiro. Ou em nenhuma das duas opções. Sem nenhum caráter científico, o resultado mostrou descrença geral. 33% diziam acreditar no proprietário do Botafogo e 12% na isenção do Brasileirão.
Quer dizer que duas em três pessoas nao acham que Textor não fala verdades. Mas uma em dez não põe a mão no fogo pela isenção dos campeonatos.
Em suma, ninguém acredita em nada!
O discurso insano de Renato, em Salvador, reflete exatamente esse descrédito.
A crise de credibilidade se mistura com o descompromisso de quem responde em redes sociais, mas a enquete, despretensiosa, sinaliza que mudanças precisam acontecer.
Noção disso é se tratar Textor como um louco, mas, por outro lado, quase não se falar da investigação profunda feita pelo Ministério Público de Goiás, essa sim pertimemte e sem interesses particulares.
O Campeonato Brasileiro merece crédito, é honesto, embora nem todas as pessoas que trabalharam nele tenham comportamento digno nos últimos três anos. Alef Manga, Eduardo Bauermann, Gabriel Tota e todos os que admitiram terem se vendido para a máfia especializada em corromper jogadores baratos são prova disso.
Mas há uma margem de crescimento gigantesca no futebol do Brasil, mesmo considerando a credibilidade baixa revelada pela enquete.
Quem não acredita no esporte vai ao estádio por quê?
O Brasileiro 2024 começou com a terceira maior média de público do país em todos os tempos: 22.777 por jogo.
Menos apenas do que o recorde, 26.700 ano passado, e os 22.953, que permaneceram imbatíveis entre 1983 e 2023.
Aposta por quê? Para perder dinheiro?
Nunca se apostou tanto que o setor ainda vai crescer.
As investigações não fazem parecer que a picaretagem é avalizada, quando se faz o trabalho a sério. É o caso da Inglaterra, onde as casas de apostas não impediram o crescimento da Premier League nos últimos trinta anos, mesmo quando há investigações contra jogadores, como o recente caso de Lucas Paquetá.
O problema é que, aqui, tudo pode.
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Quero receberJornalista faz anúncio, jogador não é controlado nas apostas, as redes sociais não têm regras, o dono de um clube desacredita o campeonato do qual participa, em vez de entregar seu relatório com suspeitas - não provas - para quem investiga há quase três anos.
A tentativa parece de aumentar o descrédito, em vez de solucionar ou atenuar o problema.
E, mesmo assim, o futebol sobrevive.
Seis dos primeiros 29 jogos de Brasileirão tiveram mais de 30 ml espectadores. Pior do que no ano passado, melhor do que todos os outros anos dos pontos corridos.
Sem trabalho de marketing nenhum e com dirigentes cuspindo no próprio produto que organizam, o futebol vive. Hoje, haverá Maracanã com mais de 40 mil para ver o jogo contra o Botafogo. A Neo Química Arena terá gritos de Timão ÊÔ e protestos contra o Fluminense. A torcida do Vitória já foi em grande número contra Palmeiras e Bahia e repetirá contra o Cruzeiro.
O contraste é gigantesco.
O público real está no estádio.
O virtual diz que não acredita nem em Textor nem no Brasileirão.
Nos dois casos, é preciso fazer com que os dirigentes acordem para a possibilidade de ter mais gente interessada num torneio que tem enchido estádios, melhorado o nível técnico e sobrevivido até ao descrédito propositalmente criado pelos próprios organizadores.
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