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O Fla-Flu dos extremos de dois pesos e duas medidas

O desabafo de Tite sobre o calendário tem todo o sentido, pelos desfalques do Flamengo pela Copa América, pelos jogos seguidos e em menos de 72 horas de intervalo, mas a agressividade e o dedo apontado para Julio Avelar não pareceram justos. Avelar não é o culpado de um problema que persiste há décadas no Brasil.

Não se tratará aqui nem sequer do período em que Tite foi técnico da seleção. Tinha mesmo de convocar quem julgasse melhor e, muitas vezes, foi prejudicado pelo desrespeito da CBF às datas Fifa.

Voltemos doze anos no tempo.

Em 2011, o Santos conseguiu adiar quatro jogos durante a Copa América, porque tinha três convocados: Elano, Ganso e Neymar. Naquele tempo, colegas diziam que o Santos tinha de vender Neymar, porque ficaria com a cabeça nas nuvens por uma proposta do Chelsea, que o Santos rejeitou, e porque ele só tinha jogado 21 das 38 rodadas do Brasileirão 2011. No resto do tempo, e.estava na seleção.

Ora, o certo era consertar o calendário, defendia este colunista na ESPN, na época.

Havia onze jogadores convocados para a Copa América, sete na seleção brasileira. Hoje são 33, apenas três defendendo o Brasil.

Em 10 de agosto de 2011, o Santos recebeu o Corinthians numa quarta-feira às 21h50, absurdo horário da TV naquela época. Tite era o treinador corintiano, beneficiado pela ausência de Neymar. Apenas 68 horas depois, às 18h30 de sábado, o Santos perdeu do Atlético Goianiense por 2 x 0, em Goiânia.

O mesmo problema do Fla-Flu de hoje, do Grenal de ontem, praticamente o mesmo tempo escasso de descanso de Internacional pós Corinthians, do Flamengo pós Bahia e do Santos, naquele tempo. Ah, e do Bahia, de quem Tite nem se lembrou, mas que saiu do Maracanã depois da meia-noite de sexta-feira, para jogar às 16 horas deste domingo contra o Cruzeiro, em Salvador.

Se quem defendia que Neymar deveria ser vendido pelo Santos, há doze anos, tivesse batido com a mesma força na necessidade de mudar o calendário para mantê-lo aqui, talvez o Flamengo não tivesse de liberar cinco jogadores para a Copa América hoje, sem que o Brasileirão fosse paralisado. Parou em 2019, lembra? Pela Copa América, que acontecia no Brasil.

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O defeito do calendário é o mesmo há décadas. Só muda quem reclama. Hoje é o Flamengo, antes era o Santos, amanhã será o Corinthians. Antes Tite se beneficiava da ausência de Neymar, depois tinha de convocar os melhores e não podia, agora lamenta não ter tempo nem seus craques à disposição.

A situação é muito séria. E seguirá sendo insolucionável enquanto cada olhar apenas para seu próprio umbigo, em vez de pensar na situação global. O Flamengo é o líder, o Fluminense, lanterna. E o risco de perder pontos existe porque é clássico e porque há desfalques e cansaço.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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