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Leila é firme e toca em velhas feridas presidindo dois lados conflitantes

Leila Pereira é justa, faz boa gestão e toca em feridas velhas, que precisam cicatrizar no futebol brasileiro. É uma dirigente rara.

Por outro lado, há um inegável antagonismo em ser presidente do patrocinador e do patrocinado, da Crefisa e do Palmeiras.

No ano passado, numa conversa telefônica, seu marido José Roberto Lamacchia questionou por que razão se falava em conflito de interesses:

"Não há, porque a Crefisa cobra juros de todos os seus clientes, mas não cobra do Palmeiras."

Ao ouvir a resposta de que seu argumento confirmava o conflito, respondeu: "Você está dizendo que eu sou um mau dono da Crefisa?"

Só quem pode dizer isso é quem está dentro da administração da empresa. Mas que pode haver situações em que o interesse do patrocinador e do patrocinado se choquem, isso pode. Como na transformação dos direitos de imagem adquiridos pela Crefisa em dívida contraída pelo Palmeiras, quando a financeira foi notificada pela Receita Federal. A financeira pagou multa de R$ 80 milhões, e o Palmeiras ficou com dívida de R$ 160 milhões. A operação foi aprovada pelo Conselho Deliberativo do clube.

Por isso, em quase três anos na presidência, digamos que Leila tem crédito.

Sua gestão à frente do Palmeiras e o fato de não ter medo de brigas que precisam ser compradas a avalizam.

Só Leila falou da absurda soltura de Daniel Alves em troca de pagamento de multa.

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Só ela levantou a voz contra os que pretendiam ser senhores feudais da Liga Brasileira.

Também teve coragem de dizer que John Textor não tinha provas concretas de manipulação de campeonatos.

O Ministério Público de Goiás denunciou 17 jogadores por fraude, máfias de apostas, mas as investigações de mais de dois anos não confirmam manipulações de campeonatos. Textor jamais conversou com os promotores goianos.

Ao ameaçar levá-la aos tribunais nos Estados Unidos, está dizendo que os tribunais no Brasil são manipulados?

Também comprou briga com torcedores uniformizados. Verdade que depois de passar ajudar a financiar o Carnaval da escola de samba entre 2016 e 2022.

Não há dúvida de que Leila é, disparadamente, a melhor presidente na comparação entre as três mulheres que dirigiram grandes clubes. Marlene Matheus, no Corinthians, entre 1991 e 1993, Patrícia Amorim, no Flamengo, de 2010 a 2012. Leila ganha de longe também de velhos dirigentes homens, de Ricardo Teixeira a Mustafá Contursi.

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A conversa se equilibra muito quando se fala em Paulo Nobre, que afirmou não haver tempo de sociedade para ser candidato ao Conselho Deliberativo, como foi, em 2016. Paulo Nobre é a razão da virada na vida palmeirense. Leila dá continuidade ao bom trabalho.

E tem o mérito de falar a verdade.

Às vezes, esbarra na necessidade de defender seu lado.

Por exemplo, ao chamar o Allianz Parque de Coliseu, sem notar que a piscina social do clube estava em obras inacabadas havia dois anos e ela, sim, parecia o Anfiteatro Flaviano. Leila ordenou a reforma de uma grande área, que incluiu as raias olímpicas e o tanque dos trampolins. Batizou "Parque Aquático Crefisa."

Mas só agora estão perto de terminar as obras no pedaço conhecido como "piscina da ilha".

Errou ao abrir inquérito policial contra a W. Torre, quando o caminho apropriado sempre pareceu ser o diálogo, proposto nos últimos meses e que aproxima clube e construtora de um acordo.

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Não acertou ao dizer que, antes da Crefisa, o Palmeiras tinha como única alegria escapar do rebaixamento, sem notar que o clube se classificou para a Libertadores quatro vezes nos dez anos anteriores ao contrato de patrocínio com a financeira. No período, ganhou um estadual e uma Copa do Brasil.

Na campanha para a reeleição, precisará prometer que não colocará dinheiro em clubes rivais nem coirmãos, como o Vasco, porque a legislação proíbe ter o controle ou a presidência em duas associações diferentes.

Leila acerta mais do que erra.

Esta é uma vantagem inequívoca, especialmente num país em que os dirigentes deixam o futebol tão distante do potencial que pode alcançar. Será reeleita no final de 2024, para mais três anos de mandato. Depois, quem sabe queira a CBF. Ou a política.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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