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Como as novidades táticas desaparecem do futebol brasileiro

O desabafo de Abel Ferreira sobre o calendário brasileiro, em voz pausada e calma, é um alerta sobre por que as novidades táticas não sobrevivem no Brasil. Ele falou sobre a permanência dos estaduais, mas com um jogo só nos mata matas, sobre final da Copa do Brasil com final única, não por ser melhor. Apenas para diminuir a quantidade de partidas.

"O Manchester City chegou a todas as finais e disputou 63 jogos na temporada. Nós estamos no meio do ano e já jogamos 40. É um absurdo!"

Na verdade, já são 43!

Com o perdão da repetição, Abel Ferreira tem adotado um modelo de jogo que quase ninguém comenta no Brasil. A exemplo de Xabi Alonso, na revolucionária temporada do Bayer Leverkusen, usa em muitas partidas marcação individual e sem sobra.

É extremamente desgastante do ponto de vista físico e mental.

O Bayer Leverkusen disputou 53 partidas em dez meses. Em média, 5,3 por mês. O Palmeiras fará dez jogos nos próximos 33 dias e chegará, em 24 de agosto, a 54 disputados neste ano!

Não é só Abel Ferreira. Todos têm dificuldades para aplicar o que julgam importabte. Pedro Caixinha instrui os jogadores do Bragantino a atuarem num WM moderno, 3-2-5, desenho similar ao do Manchester City. O desgaste de jogos e viagens, duas vezes por semana, atrapalha muito. Também Gabriel Milito, que marca individualmente. O retorno da marcação homem a homem foi marca da Eurocopa.

Alguém dirá que os técnicos do Brasil não têm coragem, não testam novos formatos, não tentam copiar o que se faz na Europa. Abel Ferreira faz tudo isso e pode ter de abandonar o modelo pela dificuldade física de marcar homem a homem, e sem sobra, como fazem Marcelo Bielsa, Xabi Alonso e, em muitos momentos, Mikel Arteta.

E, pior, ninguém fala sobre isso no Brasil! Não há uma partida comentada na TV em que se saliente a maneira como o Palmeiras está tentando executar sua marcação.

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Discutimos o pênalti bem marcado, o VAR mal aplicado, mas não se fala das novidades táticas e como elas não poderão ser aplicadas ao disputar dez partidas no intervalo de 30 dias.

Na entrevista pós Cruzeiro, Abel tratou do assunto. Com calma e serenidade. E, mesmo assim, talvez até por esta razão, ninguém notou.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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