Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
OpiniãoEsporte

A história das compras e doações dos terrenos dos estádios do Brasil

A compra do terreno do Gasômetro, na região central do Rio de Janeiro, mais do que produzir elogios e críticas faz pensar na história das construções de estádios do Brasil. Nem todas as informações são totalmente disponíveis, mas é delicioso mergulhar nos jornais antigos, acervos digitais ou físicos, e perceber como começaram a aparecer os primeiros grandes palcos.

O Atlético colocou a pedra fundamental no terreno do bairro Califórnia, onde hoje está a Arena MRV, depois de adquirir lotes por um total de R$ 20 milhões, metade do que a prefeitura avaliava. Comparados aos R$ 138 milhões do terreno do Gasômetro, uma pechincha. Diferente a conta da doação da gleba de Itaquera para o Corinthians, pelo prefeito Olavo Setubal.

Em 11 de novembro de 1978, o presidente Ernesto Geisel desceu no aeroporto de Congonhas, vindo de Brasília. Visitou o ginásio do Parque São Jorge para efetivar a entrega da documentação oferecida pelo prefeito Olavo Setubal ao presidente Vicente Matheus, do Corinthians. A previsão era de um estádio para 200 mil pessoas. Só foi inaugurado 36 anos depois, em 18 de maio de 2014.

Havia uma lógica na doação, ainda que alguém diga ser um absurdo entregar de mão beijada um terreno tão grande. A Companhia do Metrô mudou o trajeto da linha Leste-Oeste, atual Linha 3, que tinha por objetivo seguir até Poá, ou Suzano. Fez chegar ao lado do futuro estádio, onde se junta com a estação dos trens, que levam para lugares mais distantes da zona leste.

O desenvolvimento do bairro se daria a partir daí. E se deu. Não tinha nada. Hoje tem Shopping Center e a ligação com a linha do trem que leva a Guaianases e, depois, até Mogi das Cruzes. É por isso que o terminal Itaquera se chama Inter-Modal, por unir metrô e trem.

O projeto do estádio não foi a única razão para a mudança do desenho da linha. Também a construção de 25 mil unidades habitacionais entre Artur Alvim e Itaquera. O bairro saiu do papel antes da arena.

Em torno dos estádios de São Paulo, havia pouca coisa. Os bairros cresceram em torno do Pacaembu e, principalmente, do Morumbi. O terreno do atual Cícero Pompeu de Toledo, Morumbis, teve 20% vendidos pela Imobiliária Aricanduva, que tinha o governador Adhemar de Barros como um dos sócios. Os outros 80% foram doados também pela Imobiliária.

A mesma Imobiliária doou parte dos terrenos do Grupo Bandeirantes de Comunicação. O empresário Jorge João Saad era genro de Adhemar desde 1947. A construção do Morumbi se iniciou em 1953.

O terreno das Laranjeiras, maior estádio da América do Sul no final da década de 1910, foi entregue ao Fluminense e pertencia à família Guinle. Diferentemente de outros lugares, as Laranjeiras tiveram um pedaço desapropriado pelo poder público, para a transformação da Rua da Guanabara em Avenida Pinheiro Machado.

Continua após a publicidade

O Parque Antarctica era um imenso parque mantido nos fundos da Companhia Antarctica Paulista. O primeiro jogo de campeonato oficial do país, a abertura do Paulista de 1902, aconteceu no campo instalado dentro do parque, que ia aproximadamente da atual Avenida Pompeia até a atual Avenida Antarctica. Dentro do parque, ficava o campo.

Fundado em 1914, o Palestra Itália comprou o terreno da Companhia Antarctica em 1920, por 20 mil contos de réis. Os críticos diziam que era um valor irreal e assustador. Cinco anos depois, com dificuldades para pagar pelo campo que já existia, o Palestra negociou a venda de 20% da gleba para o Conde Francisco Matarazzo.

Os 80% do terreno mantidos pelo Palestra Itália se tornaram o estádio do Parque Antarctica, o nome do lugar. Em 1933, a construção do estádio de cimento, em 1964, a reforma para fugir das enchentes e a criação do que ficou conhecido como Jardim Suspenso, em 2014 a transformação em Allianz Parque.

O Gasômetro pertencia ao Fundo de Investimento Porto Maravilha, gerido pela Caixa Econômica Federal. O Fundo de Investimento foi criado justamente para revitalizar áreas degradadas da cidade do Rio de Janeiro. Então, a venda faz sentido. O deságio é parte de qualquer processo de desapropriação.

Com isonomia, dá para entender cada caso, onde houve política e também interesse social. Na maior parte dos casos, as duas coisas.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Deixe seu comentário

Só para assinantes