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A voz de um povo: Palmeiras sai aplaudido por 40 mil pela segunda vez

Leila Pereira foi rápida e certeira, ao se posicionar na zona de entrevistas coletivas pouco depois da eliminação do Palmeiras e dizer o óbvio: "Parabéns ao Botafogo! Nosso trabalho continua e vamos focar no Brasileiro". Falou pouco depois de o Allianz Parque aplaudir a atuação palmeirense na desclassificação. Pela segunda vez, em três semanas, as arquibancadas tristes reconheceram o esforço.

Por vezes, é surpreendente como a lucidez aparece de onde menos se espera. Durante a semana passada, linhas tortas em textos de jornais e sites, assim como em programas de rádio e TV, questionavam se Abel Ferreira seria mantido em caso de eliminação na Copa do Brasil e Libertadores. Está tão clara a razão de a renovação de contrato de Abel mirar o Mundial de Clubes que era impensável a troca do treinador.

Leila foi precisa ao perceber o movimento externo e terminou com qualquer especulação. Ainda que tenha deixado o Mundial de Clubes longe dessa discussão: "Penso a curto prazo. Vamos focar no Brasileiro", informou.

A discussão sobre o aplauso depois da partida contra o Flamengo parece pretensão de ser ombudsman do sentimento alheiro. O oposto da palavra empatia, tão repetida durante a pandemia. É tão difícil se colocar na posição de espectador e perguntar por que 40 mil pessoas aplaudem? Fica sempre improvável, para quem não vai ao estádio.

O Allianz Parque não é igual à Neo Química Arena, mas se aproxima muito dela, com o gol norte cantando sem parar, sem críticas nem apupos, mesmo nos momentos de impaciência com erros repetirdos dos jogadores menos amados. Os lamentos, os gritos de "aahhhhhhhh!" mais raivosos vêm do setor oeste ou sul e em muito menor volume do que quando se chamava a numerada de turma do amendoim.

Sabe disso quem vai ao Allianz Parque. Como percebeu mais rapidamente que o corintiano apoia até o fim e só faz seus protestos depois do apito final quem frequenta a Neo Química Arena. O cheiro da arquibancada faz diferença.

O aplauso palmeirense na derrota não é inédito. O São Paulo, dos Menudos, nasceu num empate por 2 x 2 contra o Grêmio, no Pacaembu. O resultado causou a eliminação precoce do Campeonato Brasileiro de 1985 e as palmas das arquibancadas frustradas mostraram que havia confiança na sequência do caminho. No final daquele ano, o São Paulo foi campeão paulista. Valia muito! No ano seguinte, ganhou o Brasileiro e passou a ser chamado de melhor equipe do país.

Não dá para saber se o campeão brasileiro será o Palmeiras, o Botafogo, o Fortaleza ou o Flamengo. Se a temporada terminar sem outro título palmeirense, além do estadual, vai haver frustração. É assim que se vive, em qualquer atividade humana, com alegrias e frustrações. Algo que boa parte dos críticos do aplauso não percebem é que há gerações de torcedores que viveram longos períodos sem títulos. Por conhecerem a dor da derrota, saboreiam a vitória.

Isso não vale só para palmeirenses. Botafogo, Atlético, Cruzeiro, Santos, Fluminense, Vasco, Corinthians... Todos os que viveram longos períodos de sofrimento.

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Se 40 mil pessoas aplaudem, antes de criticar é muito melhor tentar entender por quê.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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