Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
OpiniãoEsporte

Caso Paquetá e Luiz Henrique evidencia a ética do 'O que é que tem?'

Por que um jornalista não deve fazer anúncios de sites de apostas, individualmente?

Porque vende verdades, informações.

É diferente de um ator, que interpreta, distribui emoções.

E, mesmo assim, Tony Ramos deu um depoimento importante ao anunciar a rescisão de seu contrato com a Friboi, depois do escândalo de corrupção que envolveu a JBS, dona da marca, em 2017. Na época, o ator declarou: "Há um incômodo da minha parte em continuar emprestando meu nome não a um produto — esse eu não me envergonho, não me arrependo e continuarei a dizer como homem de palavra que sou, anunciei aquilo que consumo. Vejo que nesta confusão enorme de informações, eu não emprestaria mais o meu nome. É simples assim, uma equação de primeiro grau".

Se um ator que consome o produto se arrependeu, o que se dirá de um jornalista, que empresta sua credibilidade? Foi marcante o caso de um jornalista, garoto-propaganda, que não apresentou um programa de TV no dia em que o empresário Pascoal Grassiotto, proprietário da Lousano, foi preso em 2003.

O apresentador alegou problema de saúde. Não há razão para duvidar.

Seria diferente se o anúncio fosse vendido pelo departamento comercial da emissora e divulgado sem a voz do jornalista.

E por que um jogador de futebol NÃO deve apostar?

Ora, é óbvio. Porque sua isenção está diretamente ligada à credibilidade da indústria que lhe paga, que não é das apostas, mas do esporte.

Continua após a publicidade

Não está aqui em julgamento se Paquetá e Luiz Henrique apostaram ou se decidiram se envolver em fraudes, como tomar um inocente cartão amarelo, que ajudaria seus amigos ou familiares. Não dá para saber se isto aconteceu de fato. Há investigações, nenhuma certeza.

Se os dois não são exemplo, o goleiro campeão mundial, Gianluigi Buffon, é. Em 2006, quase ficou fora da Copa do Mundo, porque a investigação do escândalo de manipulação de escalas de arbitragem na Itália, o Calciopoli, concluiu que Buffon era apostador. Ele confirmou, mas disse que só apostava em jogos fora da Itália, onde jogava, e antes da proibição imposta pelas autoridades italianas, em outubro de 2005.

Ou seja, há 19 anos jogadores são proibidos de apostar, na Itália.

Aqui, por enquanto, a novidade produz a ética do "Que que tem?"

Tem que seu nome e sua credibilidade estão em jogo. As apostas precisaram ser regulamentadas no Brasil, porque o povo aposta aqui, pelo celular, em sites do mundo todo. A Vai de Bet, por exemplo, está registrada em Curaçao. Se não tiver registro aqui, não vai gerar empregos e produzirá enorme insegurança. Regulamentada, terá de indicar representante legal e informar sempre que houve volume ilegal de apostas.

Se não for assim, um parente de jogador, ou qualquer outra pessoa, poderão apostar em qualquer site do planeta, por meio de um celular usado no Brasil. E a chance de pilantragem será ainda maior.

Continua após a publicidade

Paquetá e Luiz Henrique são inocentes até que se prove o contrário. A situação é que é muito grave.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Deixe seu comentário

Só para assinantes