Ednaldo será julgado pelo STF; Gilmar segue no caso apesar de elo com a CBF
O STF (Supremo Tribunal Federal) deve julgar nesta quarta-feira (9) a liminar concedida por Gilmar Mendes que devolveu a Ednaldo Rodrigues o direito de ser presidente da CBF.
Dois ministros já se declararam impedidos de votar: Luiz Roberto Barroso alegou que seu sobrinho, Rafael Barroso Fontelles, participou do time de defesa de Ednaldo Rodrigues no início do julgamento. Já Luiz Fux argumentou que seu filho, Rodrigo Fux, assina um dos recursos da CBF no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.
Gilmar Mendes não alegou suspeição, apesar de ser fundador do IDP (Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa), entidade que atua em parceria com a CBF Academy, subdivisão da confederação nacional que ministra cursos voltados ao esporte. Atualmente, o IDP é gerido pelo filho de Gilmar, Francisco Mendes, e o acordo com a CBF rende cerca de R$ 15 milhões anuais.
Outro ponto que reforça o conflito de interesses é a situação de Hugo Teixeira, atual chefe de gabinete de Ednaldo Rodrigues na CBF. Antes de atuar pela confederação, Teixeira foi diretor de operações do IDP.
Por fim, em agosto de 2024, Ednaldo Rodrigues concedeu bolsa de 100% em um curso da CBF Academy/IDP para seu genro, Gabriel Mendonça Moreira Brandt, marido de sua filha, Rafaela Brandt. O documento que comprova a bolsa integral reforça a ligação entre CBF Academy e o IDP, instituto dirigido pelo filho de Gilmar.
Em meio a tudo isso, há uma crise de comando dentro da CBF. Ednaldo Rodrigues telefonou na semana passada da Suíça para que oito de seus executivos na CBF assinassem um documento afirmando que a relação com ele é "harmoniosa e de absoluta confiança". Hugo Teixeira é um dos dirigentes que assina o documento.
Há depoimentos dentro da CBF dando conta de que houve pressão para que o pedido fosse desmentido.
O interesse do Atlético-MG no retorno de Rodrigo Caetano não é por acaso.
Todos os presidentes de clube têm relatos de que os executivos da CBF não têm autonomia e não estão felizes. "É o lugar certo na hora errada" é frase repetida por mais de um diretor dentro do edifício da Barra da Tijuca.
Gilmar Mendes tem ligação com possível sucessor de Ednaldo
Caso Ednaldo seja afastado da presidência da CBF após o julgamento do STF, quem assumirá o posto será Luiz Otávio Veríssimo, atual presidente do STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva).
Veríssimo foi aluno do IDP e convidado por Gilmar Mendes a palestrar no Fórum Internacional de Lisboa, em evento que ficou conhecido como "Gilmarpalooza".
O fórum recebeu o "título" por ser capitaneado pelo ministro e atrair autoridades, empresários e personalidades do mundo jurídico. O apelido nasceu da junção do nome de Mendes com o nome do festival Lollapalooza, que surgiu em 1991 — os dois têm duração de três dias.
Newsletter
OLHAR APURADO
Uma curadoria diária com as opiniões dos colunistas do UOL sobre os principais assuntos do noticiário.
Quero receberNa ocasião, também compareceram ao Fórum de Lisboa os ministros do STF Dias Toffoli, Luís Roberto Barroso, Alexandre de Moraes, Cristiano Zanin e Flavio Dino.
Como está o julgamento
A votação da liminar que mantém Ednaldo na presidência da CBF já foi adiada sete vezes no STF desde que foi concedida por Gilmar Mendes, em 4 de janeiro deste ano.
A briga jurídica começou quando o Ministério Público do Rio de Janeiro moveu ação contra a CBF por julgar que o estatuto da entidade não estava de acordo com a Lei Pelé. Pouco depois, Rogério Caboclo foi afastado da presidência por um processo que envolvia assédios sexual e moral.
Ednaldo assumiu a presidência em 2021, primeiro de maneira interina e depois efetiva, graças a um acordo permitido pelo TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro) que autorizava o Ministério Público a firmar um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) para que a entidade elegesse seu novo mandatário.
Em 7 de dezembro de 2023, o TJ-RJ recuou e declarou que o Ministério Público não tinha legitimidade para firmar o TAC, resultando no afastamento de Ednaldo. Após recurso impetrado pela defesa de Ednaldo, Gilmar Mendes concedeu a liminar que o devolveu ao cargo. Desde então, ele é o presidente em caráter provisório até que a liminar seja julgada.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.