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A seleção brasileira no túnel do tempo ou Meia-Noite em Paris

Muita gente não entendeu a observação de Dorival Júnior a respeito do post de Bruno Formiga, com um texto do velho jornalista e bom amigo Tonico Duarte. O brilhante repórter e editor que faleceu em dezembro de 2023 tem uma matéria publicada em 1979 em que critica a geração de jogadores da época. O título "Seleção, apenas um time comum." vem acompanhado de um olho: "Há um festival de cabeças-de-bagre."

Dorival Júnior não criticou a geração de Zico, Sócrates, Falcão, Leão e Zé Sérgio, citados por Tonico Duarte. Criticou a análise apressada feita à época pelo texto brilhante de Tonico.

"Meia-Noite em Paris" é um filme de Woody Allen premiado com o Oscar de Melhor Roteiro Original, em 2012. Nele, o escritor e roteirista Gil Pender, vivido por Owen Wilson, viaja no tempo até a Paris do início da década de 1920, quando se encontra com Scott e Zelda Fitzgerald, Ernest Hemingway, Gertrude Stein, Salvador Dalí. Encanta-se e se surpreende com o desencanto dos grandes personagens com sua época. Preferiam a Belle Époque, o final do século 19.

Dorival Júnior se surpreendeu com o que só não se surpreende quem gosta de ler jornal velho. É uma delícia descobrir o desencanto. O dia em que Paulo César Carpegiani foi demitido.

Do início da década de 1980, outras duas pérolas. Zagallo disse à revista Placar: "Só Zico se compara aos craques de 70." João Saldanha escreveu para a mesma revista: "Todos evoluíram. Menos o Brasil." Você volta no tempo lendo textos antigos e se descobre no filme de Woody Allen. Dorival não criticou a geração. Tentou analisar os críticos daquela época e perguntar se nossas críticas atuais não podem desembocar em descobertas de que temos jogadores fora do comum, como Vinicius Júnior, Rodrygo, Savinho e o criticado Bruno Guimarães. Eles podem ser campeões mundiais ou formarem uma seleção brilhante? Podem.

Depende de trabalho, que tem sido boicotado pela CBF, muitas vezes.

Ninguém jamais comparará Bruno Guimarães a Clodoaldo nem Vinicius Júnior a Zico ou Romário. Vale só lembrar que gerações do passado foram criticadas e, em seu tempo, dizia-se que não havia mais cfraques como antes. Assim como Ernest Hemingway em Meia-Noite em Paris.

Aos jogadores não cabe a raiva nem o desabafo. Cabe o desafio. Jogar o melhor possível é o único caminho para demonstrar, no futuro, que já eram bons no presente.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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