Marquinhos pede para que não se abandone a seleção. Mas quem a abandonou?
O zagueiro Marquinhos pediu, em sua entrevista coletiva, que o torcedor não abandone a seleção brasileira. Nem comovente, nem emocionado, seu depoimento parece ter sentido, levando em conta que atualmente veste a faixa de capitão. Reflete, no entanto, um erro de avaliação muitas vezes cometido não apenas por jogadores, também por críticos e jornalistas.
O torcedor não abandonou a seleção. A CBF, sim.
Quando falta tempo de preparação para as seleções de base. Quando se vê o Brasil eliminado das Olimpíadas, com sua equipe masculina. Quando não se classifica para o Mundial Sub-20. Ao passar décadas sem realizar amistosos contra seleções importantes da Europa dentro do território nacional, a CBF abandona a seleção e as seleções, adulta e de base, masculina e feminina.
Por exemplo, quando os dirigentes decidem interromper a montagem do trabalho logístico da comissão técnica durante a Copa América e desautorizar tudo o que havia sido feito. Isto é abandonar a seleção.
Há, é verdade, falta de conexão entre torcida e time, num processo que não é homogêneo, varia de estado para estado, de períodos de vitórias e outros de derrotas. Escuta-se que o torcedor, este ser inanimado que parece ter personalidade na boca de comentaristas, mas não existe na vida real — não de forma una e coesa — que o torcedor não gosta mais da seleção.
Em 1972, o maior público da história do Beira-Rio, 106 mil pagantes, ficou dividido entre os que torciam pelo Brasil e pela seleção gaúcha. Empate por 2 x 2.
Em 1989, a Fonte Nova onde o Brasil jogará nesta terça-feira, recebeu 9.213 espectadores para a vitória por 3 x 1 sobre a Venezuela, 8.223 no empate por 0 x 0 com o Peru, 9.100 em outro empate por 1 x 1 contra a Colômbia. O público baiano estava irritado por Sebastião Lazaroni não utilizar o centroavante Charles, campeão brasileiro pelo Bahia no início daquele ano.
O estádio tinha capacidade para 110 mil espectadores.
A seleção se conecta e desconecta dependendo da época, dos craques e dos resultados. Está claro que precisa haver trabalho coeso de religação com a população, especialmente do Rio, São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre. Esta religação depende do trabalho da CBF e dos jogadores. Torcida não abandona ninguém. Ela se abraça, quando se sente abraçada.
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