Hegemonia? Técnicos portugueses e brasileiros empatam em títulos desde 2019
A aposta de José Boto de acabar com "a hegemonia de técnicos portugueses" e sua confiança de que Filipe Luís ajudará nessa missão revela enorme boa intenção. Há mesmo uma noção generalizada de que os treinadores de Portugal dominaram o mercado do Brasil, por causa dos quatro títulos brasileiros, quatro Libertadores e uma Copa do Brasil conquistados depois da chegada de Jorge Jesus.
Mas a conta de troféus de Libertadores, Brasileirão e Copa do Brasil não indica hegemonia portuguesa.
Também mostra que nenhum argentino, uruguaio, colombiano ou espanhol, nacionalidades que passaram pelos principais clubes daqui, nenhum deles conquistou os troféus mais relevantes.
Desde a chegada de Jorge Jesus, em junho de 2019, houve seis temporadas e, portanto, 18 taças entre Brasileirão, Libertadores e Copa do Brasil. Destas, os portugueses ganharam nove, os brasileiros as outras nove. Nenhum argentino, uruguaio, colombiano ou espanhol, como Miguel Angel Ramírez, conseguiu estes troféus.
Há, de verdade, uma noção de que a escola portuguesa se aperfeiçoou mais do que a nossa, em termos teóricos, nos últimos vinte anos. Até a temporada 2005/06, os treinadores campeões portugueses eram estrangeiros em 60,5% das vezes. De lá para cá, o Campeonato Português foi disputado 18 vezes e vencido por nascidos em Portugal em 17 destas disputas.
Jorge Jesus (3 vezes), Jesualdo Ferreira (3 vezes), Sérgio Conceição (3 vezes), Rui Vitória (2 vezes), Rubem Amorim (2 vezes), Vítor Pereira (2 vezes), Bruno Lage (1 vez), André Villas Boas (1 vez), são os nomes vencedores. O alemão Roger Schmidt, com o Benfica (2022/23) é o único estrangeiro a vencer desde então.
O treinador mais vezes campeão português é o brasileiro Oto Glória. Conquistou a Liga cinco vezes, quatro delas pelo Benfica (1955, 1957, 1968 e 1969) e uma pelo Sporting (1966).
Portugal chegou às semifinais de Copas do Mundo duas vezes, ambas com treinadores nascidos no Brasil: Oto Glória (1966) e Felipão (2006).
Mas ganhou a Eurocopa sob o comando de Fernando Santos, lisboeta de nascimento.
A febre brasileira por treinadores estrangeiros não começou com Jorge Jesus. Basta lembrar que o Brasil teve treinadores estrangeiros em grandes clubes em todas as décadas desde 1910. E que, antes de Jorge Jesus, nos anos 2010, passaram por aqui o português Paulo Bento no Cruzeiro, os argentinos Ricardo Gareca no Palmeiras e Edgardo Bauza no São Paulo, os colombianos Juan Carlos Osorio no São Paulo e Reinaldo Rueda no Flamengo, o uruguaio Jorge Fossatti no Internacional, o argentino Jorge Sampaoli, que chegou ao Santos em 2019, antes de Jorge Jesus ao Flamengo.
Há mais fracassos do que sucessos, tanto de estrangeiros, quanto de brasileiros. O que indica que o fiasco não é dos técnicos. É da nossa falta de paciência para compreender os processos de trabalho.
OS TÍTULOS MAIS IMPORTANTES DESDE 2019 (portugueses em negrito):
2019 - Jorge Jesus (Brasileirão), Jorge Jesus (Libertadores), Tiago Nunes (Copa do Brasil)
2020 - Rogério Ceni (Brasileirão), Abel Ferreira (Libertadores), Abel Ferreira (Copa do Brasil)
2021 - Cuca (Brasileirão), Abel Ferreira (Libertadores), Cuca (Copa do Brasil)
2022 - Abel Ferreira (Brasileirão), Dorival Júnior (Libertadores), Dorival Júnior (Copa do Brasil)
2023 - Abel Ferreira (Brasileirão), Fernando Diniz (Libertadores), Dorival Júnior (Copa do Brasil)
2024 - Artur Jorge (Brasileirão), Artur Jorge (Libertadores), Filipe Luís (Copa do Brasil)
OS MAIS VENCEDORES
Abel Ferreira (5 títulos)
Dorival Júnior (3 títulos)
Cuca (2 títulos)
Jorge Jesus (2 títulos)
Artur Jorge (2 títulos)
Fernando Diniz (1 título)
Filipe Luís (1 título)
Rogério Ceni (1 título)
Tiago Nunes (1 título)
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