O decepcionante discurso de Klopp na eliminação do Liverpool
"Não entendo como o Atlético joga esse tipo de futebol com a qualidade que tem. Eles poderiam jogar um futebol de verdade (ou 'decente', dependendo da tradução)", comentou Jurgen Klopp após a eliminação na Champions League.
Não há problema em preferir um estilo de jogo ou achar outro chato. A surpresa foi ver o técnico alemão abordar o tema desta maneira.
O futebol de alto nível é feito de diversidade de estratégias. Uma das maravilhas do jogo é exatamente não ter um caminho certo para chegar ao resultado. No fim, todos querem vencer. O "como" é o que oferece diferentes desafios e obstáculos nos duelos. Defender com 11 é tão válido quanto se lançar todo ao ataque. O que dará mais certo? Impossível saber antes da bola rolar.
A eliminação do Liverpool não segue uma linha lógica. A equipe inglesa fez um de seus melhores jogos nas últimas semanas. Embora a queda de desempenho fosse um ponto preocupante, em Anfield, produziu muito. Dominou, pressionou, atropelou.
Só que o futebol nem sempre pode ser explicado da forma mais racional. Oblak salvou e o Atlético de Madrid não executava a sua proposta da forma esperada. O time de Simeone é especialista em se defender, não se importando em passar os 90 minutos contra a parede, protegendo a própria área. Também há beleza na boa execução da proposta, mas não era o caso. A equipe apenas sobreviveu ao bombardeio.
Sem encaixar saídas para o contra-ataque, parecia entregue ao sofrer o segundo gol, já na prorrogação. E aí veio o herói improvável, na figura do volante Marcos Llorente, que sai do banco e faz dois gols. No primeiro, infelicidade do goleiro Adrián. Depois, o sentimento de superação, característico da "era Simeone".
É perfeitamente possível criticar o desempenho do Atleti na partida. É plausível questionar o rendimento nada convincente da equipe ao longo da temporada. Também é válido discutir as dificuldades de um trabalho que, nos últimos anos, tem tentado, sem sucesso, mudar as características e ampliar seu repertório ofensivo. Há qualidade individual no elenco para mais do que tem sido visto, seja em qual for a estratégia.
Klopp é uma das figuras mais interessantes de se ouvir no futebol. Consegue mesclar o lado humano de quem vive o jogo, sem perder a racionalidade de quem entende o jogo. Dele saem excelentes posicionamentos não só sobre futebol, mas sobre a vida e a relação entre as coisas.
Talvez por isso decepcione. Ao criticar a estratégia do adversário, cai no lugar comum do derrotado que culpa o vencedor. Um mau perdedor, pelo menos por um dia. Todos são falíveis e foi a vez de Klopp soltar um infeliz desabafo.
Diante do que foi o jogo, nem é possível dizer que foi uma vitória da estratégia de Simeone. Foi apenas mais um dia em que o futebol foi futebol. Imprevisível, contrariando a lógica. Desta vez, para a sorte do Atleti.
Para o Liverpool, a frustração é natural. O time jogou bem, foi muito superior, criou inúmeras chances e teve a vaga nas mãos. Mas certamente seria mais adequado, simpático e coerente se Klopp culpasse o aleatório, de uma forma que ele certamente seria capaz de fazer, em vez de apontar o dedo para falar sobre as escolhas do rival.
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