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Rafael Oliveira

O tempo fez bem à Seleção de 2002

Kléberson é marcado por Klose na final da Copa do Mundo de 2002 - Getty Images
Kléberson é marcado por Klose na final da Copa do Mundo de 2002 Imagem: Getty Images

Colunista do Uol

13/04/2020 15h44

A conquista do penta resgata memórias imediatas, como ficou claro no sucesso da reexibição da Globo em um domingo sem futebol ao vivo. É realmente muito saboroso olhar para trás e lembrar os detalhes.

Onde estava em cada jogo, como viveu cada momento... Copa do Mundo é inigualável! Também é curioso notar como a construção da história não segue uma linha tão racional.

Ao somar Ronaldo, Ronaldinho e Rivaldo, a tendência é resgatar o brilhante auge de cada um e imaginar um futebol imparável que nunca existiu. Não naquela Copa, por mais que a volta por cima do Fenômeno tenha sido um fantástico episódio de superação.

O saudosismo em "aquele time sim era bom" ignora todas as dificuldades de um ciclo conturbado e de um grupo que chegou ao mundial com muito mais desconfiança do que otimismo.

Méritos para Felipão por ter criado um bom ambiente e por abrir o leque de opções ao buscar alternativas de última hora. Assim surgiram nomes importantes, como Gilberto Silva e Kléberson (provavelmente o melhor em campo na final). E méritos que também só são reconhecidos no fim, pois, caso contrário, Scolari ficaria marcado como o teimoso que não quis levar Romário.

Efeitos inevitáveis do resultado. Até por isso, talvez a confusão esteja na hora de valorizar as grandes histórias ali presentes.

Histórias que não alteram a análise de uma seleção marcada pela competitividade e pela capacidade de decisão dos jogadores ofensivos, mas não pelo espetáculo que os nomes soltos sugerem anos depois. É como olhar para o Kaká de 2002 e enxergar o nível do melhor do mundo de 2007.

Parte da magia da Copa do Mundo é escrever a história com recortes de um mês a cada quatro anos. A seleção brasileira de 2002 não foi um time convincente no ciclo (Argentina e França eram as potências do período e caíram na fase de grupos) e nunca despertou o encantamento que algumas memórias afetivas reproduzem. O olhar para a escalação, duas décadas depois, também não é o termômetro exato do que ela representava naquele momento.

Talvez tudo isso torne o título ainda mais especial. Uma recompensa a vários craques da geração. Uma conquista que não pode ser diminuída. Um envolvimento que talvez muitos brasileiros já não consigam encontrar nos tempos atuais.

São sensações que formam a memória positiva e que, de tão reproduzidas, ignoram o real contexto da época. O título eterniza e o tempo dá outra cara ao passado. Neste caso, o time de 2002 envelheceu bem, alavancado pela confusão temporal dos diferentes momentos em que as individualidades justificaram tamanho reconhecimento.