Topo

Rafael Oliveira

Saudosismo de 2006 é a famosa "saudade do que a gente não viveu"

Henry e Ronaldinho conversam após eliminação da seleção brasileira para a França na Copa do Mundo de 2006 - Ben Radford/Getty Images
Henry e Ronaldinho conversam após eliminação da seleção brasileira para a França na Copa do Mundo de 2006 Imagem: Ben Radford/Getty Images

Colunista do Uol

16/04/2020 12h45

Nos últimos textos, iniciei uma série sobre como as sensações marcam a história e muitas vezes conflitam com as análises mais frias. No último, falei sobre como o tempo fez bem ao time campeão do mundo em 2002.

No caso de 2006, a explicação já é bem menos racional. Até por fazer pouco sentido. Há apenas uma defesa para a exaltação daquela equipe: isolar as individualidades na escalação e esquecer da Copa do Mundo em si.

No papel, realmente é empolgante a reunião de tantos craques. Tantos jogadores que eram referências mundiais naquele período. Só que qualquer elogio além disso já é ignorar o real desempenho da Seleção.

O uso das imagens de 2006 virou uma grande fantasia da internet. Como se aquele título tivesse escapado por detalhes cruéis, em uma dura injustiça do destino contra o futebol.

Que nada. O Brasil não jogou bem na Copa. Após atuações nada convincentes (individualmente e coletivamente), acabou batido pela igualmente forte França, nas quartas, e de forma incontestável.

A memória positiva vem da final da Copa das Confederações de 2005. Um torneio também pouco convincente, mas que teve a goleada sobre a Argentina como momento empolgante. Com uma escalação diferente do ano seguinte, é bom lembrar.

A foto de 2006 nada mais é do que a ilustração do desperdício em uma Copa do Mundo. Seja por problemas na preparação ou apenas por um mês abaixo das expectativas, não há nada para sentir saudades no torneio.

É, sim, uma forma de recordar o número de ótimos jogadores que o Brasil chegou a reunir, desde que olhando para o que representaram em suas brilhantes carreiras. Foi a última reunião nacional de melhores do mundo.

Coletivamente, não representa nada além de uma ilusão que se reproduz com o passar do tempo e tenta alterar a percepção de quem confunde as memórias ao exaltar o passado. Seria a famosa "saudade do que nunca vivemos".