Aumentar substituições pode ser um caminho sem volta no futebol
A Fifa anunciou que as equipes poderão fazer até cinco substituições por partida. A medida é temporária e, inicialmente, vale até o fim de 2020, considerando os desafios de retomar o futebol durante as incertezas da pandemia.
O tema é interessante e desperta questões bem mais profundas. Olhando para a história, cada mexida na regra teve um impacto relevante. Sem ir mais longe, a Copa de 94, por exemplo, tinha apenas duas substituições de jogadores de linha (e a novidade de uma eventual terceira para goleiro). Diante do calor dos EUA, o desgaste foi um fator que condicionou muitos dos duelos.
A evolução física no esporte é um fato, como comentado em outro texto recente. Permitir que mais dois atletas descansados entrem em campo altera consideravelmente a dinâmica. Com cinco, já é possível trocar metade do time. Não é pouca coisa.
As consequências são diversas. A primeira é acrescentar fôlego a um jogo de cada vez maiores distâncias percorridas. O banco passa a ter maior peso, seja por aspectos físicos ou táticos. É possível intervir mais vezes nos diferentes cenários presentes em qualquer partida.
Por último, a mudança tende a ampliar o impacto da diferença entre elencos. O jogo já não era de 11 jogadores há algum tempo. E agora passa a ser de até 16 em cada lado. A qualidade no banco já era capaz de fazer a diferença. Agora, mais ainda. O desequilíbrio não está só em quem entra para fazer o gol da vitória. Está também no desafio de manter o nível dos que iniciaram.
Quantos clubes são capazes de montar times fortes? Quantos serão capazes de montar bancos fortes? O elenco costuma ser um elemento importante na avaliação de torneios mais longos, que pedem regularidade, como os pontos corridos. O calendário exige.
Com mais substituições, o elenco pode passar a ter papel mais determinante também no curto prazo, ao olhar para as opções no banco de qualquer jogo isolado. A desigualdade econômica pode ficar mais evidente.
Como evolução do esporte, pode ser um caminho sem volta. Hoje, é impensável olhar para trás e achar positivo o cenário de décadas atrás, como o de 94 ou Copas anteriores. Não será surpreendente se pelo menos a quarta substituição vingar como regra definitiva para o tempo normal.
Pode parecer algo pequeno, mas tem consequências e acelera o impacto físico no jogo. Isso deve desencadear adaptações táticas e técnicas. Inicialmente, pode representar maior ocupação de espaços nos 90 minutos. Também significará maior interferência direta, pelo menos no volume de ações, nas mãos dos treinadores.
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