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Rafael Oliveira

Problema de Diniz no São Paulo não é o estilo, e sim a execução

Fernando Diniz, técnico do São Paulo, durante partida contra o Fortaleza - Rubens Chiri/saopaulofc.net
Fernando Diniz, técnico do São Paulo, durante partida contra o Fortaleza Imagem: Rubens Chiri/saopaulofc.net

Colunista do Uol

17/08/2020 13h13

O debate sobre Fernando Diniz costuma ser uma eterna repetição. Sempre cai na aprovação ou reprovação do estilo do treinador, até mais em função de gosto pessoal.

O problema é que a discussão toma um atalho que mais filosofa sobre a viabilidade dos conceitos do que avalia a execução do que o treinador se propõe a fazer.

Diniz passou a ser automaticamente associado ao estilo de jogo que defende. Isso não é um problema. Não fala bem ou mal, na verdade. É apenas uma apresentação de ideias. E é importante que qualquer treinador tenha convicção de suas ideias e metodologias.

Portanto, terminar a discussão em perguntas como "Diniz deve mudar de estilo?" antecipa o fim do debate. O caminho poderia ser o inverso: tendo Diniz tais ideias, o que tem funcionado ou não?

E a resposta é o olhar para a execução. O São Paulo tem jogado mal no que mais se propõe a fazer. E não é um 1x0 suado na fraca atuação contra o Fortaleza que mostra uma mudança. Não foi uma vitória calculada a partir de uma abordagem pragmática. Foi uma exibição pobre que terminou com três pontos. Pois o futebol é assim e permite isso.

A própria derrota para o Vasco é interessante de se observar. Embora o São Paulo tenha criado mais, não foi por melhor execução da fase ofensiva. O bom início de 1º tempo foi fruto de maior agressividade sem bola e retomadas no campo de ataque. Assim, as chances surgiram - e com méritos.

Não foi por trabalhar melhor a bola. Aliás, aqui, as fases novamente se confundem. A ideia de que o time de Diniz "ataca bem e defende mal" não corresponde ao cenário atual. O melhor período contra o Vasco foi fruto de um melhor comportamento sem bola (ainda que por pouco tempo).

Pois, com bola, as dificuldades se repetiram. Uma saída lenta e que não gera vantagens ou atrai adversários para criar espaços e progredir. Falta ritmo para dar maior dinâmica e falta profundidade pelos lados.

Não há muita movimentação, o que gera um outro debate interessante e pouco abordado: o São Paulo é o trabalho menos autoral de Diniz. Não é nem questão de ranquear os times do treinador. É anterior a isso. No Fluminense ou no Athletico, a identidade era mais visível, ainda que com outros problemas, virtudes e desafios.

Sim, é possível dizer que o resultado talvez até pudesse ser melhor contra o Vasco (e pior contra o Fortaleza), mas não por melhor execução das ideias. O problema não é querer ter posse ou jogar "como Diniz". É não conseguir jogar "como Diniz".

A questão é apresentar melhor nível no que deveria ser o fio condutor de fases que estão interligadas. Se a base da proposta é controlar a partir da posse, o fundamental é ter melhor direcionamento dos períodos com bola. Apresentar caminhos, construir e produzir mais.

Caso contrário, ter a bola passa a ser um problema duplo. Você não só deixa de incomodar o adversário, mas também facilita a vida dele, que pode esperar confortavelmente uma chance de recuperar e castigar nas transições.

Parte da fragilidade defensiva também pode ser explicada pelos problemas ofensivos, derrubando o diagnóstico simplista de que um time de Diniz necessariamente ataca bem e defende mal. Nas últimas partidas, o São Paulo, acima de tudo, ataca mal.