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Rafael Oliveira

Por que o nível de Inter x Flamengo é uma exceção no futebol brasileiro?

Heitor tenta desarmar Vitinho, durante a partida entre Inter e Flamengo - Pedro H. Tesch/AGIF
Heitor tenta desarmar Vitinho, durante a partida entre Inter e Flamengo Imagem: Pedro H. Tesch/AGIF

Colunista do Uol

26/10/2020 09h22

O Brasil adora questionar o nível do futebol jogado no país. É uma cobrança saudável e necessária, desde que não caia na habitual busca por culpados ou justificativas simples.

Internacional e Flamengo fizeram um belo jogo no Beira-Rio. Boa parte da qualidade estava no embate entre estratégias diferentes. A agressividade da equipe de Coudet para pressionar e tentar tirar o conforto da saída de bola do time de Domènec Torrent.

Como os dois gols colorados nasceram de erros individuais de defensores e há sempre a necessidade de um veredito por partida, o diagnóstico mais imediato é condenar a intenção de jogar curto.

Só que a conclusão mais simples é também a menos coerente. A lupa parece sempre maior para eventuais erros gerados por passes na defesa. Cobrar o chutão é, além de "engenharia de obra pronta", um estímulo ao futebol pobre.

Pois não há alto nível sem risco. Se cada defensor tiver que forçar a bola longa toda vez que for incomodado, o jogo só terá ligação direta. E, embora válida, não é exatamente a característica que representará repertório ofensivo.

Não que seja proibido dar chutão. É outra lenda simplista. Como se qualquer treinador preferisse tomar gol, o que evidentemente não é o caso. Mas alguns podem, sim, preferir abraçar algum risco em troca das vantagens na construção.

O futebol no mais alto nível é, cada vez mais, marcado pelo duelo entre pressionar e superar pressões. Subir a marcação é uma ferramenta que exige físico e coordenação tática, algo que os times de Coudet fazem bem.

Até por isso, os confrontos com o Atlético de Sampaoli e o Flamengo de Dome eram tão aguardados. Pois elevam o nível de exigência das equipes que melhor elaboram a posse.

O ponto não deveria ser apontar o dedo para o conceito quando o erro acontece. Pelo contrário. Deveria ser incentivar as vantagens que os zagueiros podem gerar a partir dos passes.

Um dos aspectos mais gritantes, em termos de evolução do jogo no Brasileirão, está em encorajar mais a construção dos ataques desde a defesa. Basta ver o papel de um Junior Alonso, por exemplo.

Os zagueiros são armadores e serão exigidos assim, seja diante da pressão ou da necessidade de superar um bloco mais fechado e recuado de marcação.

Só que é como no debate sobre treinadores. Parte do grupo que aponta o dedo para a pobreza de ideias é o mesmo núcleo que massacra quando alguém sai do script e a iniciativa dá errado.

Mais uma vez, o nocivo ambiente do futebol brasileiro é aquele que cobra mudanças que ele mesmo não está preparado para compreender ou avaliar. Ironicamente, a reação habitual é abafar as respostas para os próprios questionamentos.

Infelizmente, Inter 2x2 Flamengo é uma exceção dentro do campeonato. Curiosamente, um duelo entre equipes treinadas por estrangeiros menos expostos ao contexto do futebol no país. E, antes de reduzir a questão a uma suposta superioridade apenas por passaporte, é importante refletir se o problema também não está no sistema que engole treinadores e alimenta o ciclo da mesmice.